15 de Agosto de 1973 (há 48 anos) Ver 1973 -Inauguração da Rodoviária de Sorocaba, o RodocenterGalerias relacionadasNo dia 2 de setembro de 1971, um anúncio de página inteira na Folha de S. Paulo trazia a nissei Akiko Tanaka divulgando para o público uma novidade: a inauguração do Centro de Compras Yaohan.
Apresentando-se como uma das funcionárias do “supermercado e superloja”, Akiko revelava no anúncio a veia revolucionária do empreendimento erguido na esquina da Rua Cunha Gago com a Teodoro Sampaio, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo:
“O método de comércio que a Yaohan trouxe do Japão são absolutamente novos”, destacava. A inauguração aconteceu no dia 24 do mesmo mês.
A ousadia dos japoneses que escolheram a capital paulista para sua primeira loja fora do Japão ficou mais evidente quando outro anúncio de página inteira trazia a bandeira da rede fincada sobre o mapa do Brasil.
Acima, em um texto chamado “Obrigado, Brasil!”, Kazuo Wada, presidente da Yaohan no Brasil, creditava a chegada ao país como “uma indicação de Deus” e prometia “colaboração estreita para a melhoria do nível de vida do nobre povo brasileiro”.
Para inserir o consumidor brasileiro no contexto nipo-brasileiro em que foi erguido no ano de 1948, a Yaohan começou a sua jornada em São Paulo com uma promoção curiosa: todos os clientes que consumissem mais de 50 cruzeiros (pouco mais de 220 reais, segundo a correção do Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna) no local ganhariam uma pérola japonesa.
Só nos quatro primeiros dias a loja distribuiu 18 mil pérolas. O impacto logo foi sentido pelos comerciantes de Pinheiros, que viram suas vendas cair 6% na primeira quinzena dos japoneses na cidade, em uma escala que bateria nos 30% até o fim daquele ano.
O “tratamento cordial”, regra número um aos funcionários na convivência com os clientes, estava amparado nos dogmas do Seicho-No-Ie, religião japonesa para a qual “todos os homens são filhos de Deus”.
“Não havia a filosofia de lucro da empresa, mas sim de bem-estar do cliente. Todos os dias antes de abrir o supermercado o Kazuo Wada reunia os funcionários e nos passava uma mensagem espiritual”, recorda Marie Murakami, hoje com 68 anos, que trabalhou no departamento de recursos humanos da Yaohan desde a inauguração até 1976.
Ela garante que o fato da empresa estar amparada em bases japonesas não excluía os demais brasileiros do quadro de funcionários: “Havia um grande número de funcionários descendentes de japoneses, mas essa não era uma regra”.
Tratava-se de uma grande megastore, uma das primeiras do Brasil a apostar na mistura de supermercado com outros serviços como brinquedos, roupas, utensílios domésticos e outros produtos (a reportagem não conseguiu fotos do interior da loja).
Um generoso aporte de 1,5 milhão de dólares (hoje, 4,8 milhões de reais) foi oferecido em forma de financiamento pelo governo japonês.
O diretor de relações públicas do grupo, Tsuyioshi Miyhara, afirmava aos jornais que em dez anos pretendia ter 100 supermercados espalhados pelo Brasil, além de pagar à pátria-mãe cada centavo recebido.
O centro de compras era dividido em sete departamentos: supermercado, restaurante, cama e mesa, confecção, biofarma, eletrodomésticos e artigos para presente.
Dois restaurantes e o Terraço do Chope da Yaohan completavam a estrutura. Um dos restaurantes era o Shabu-Shabu, que tinha esse nome por causa de um prato japonês feito com lâminas finas de contra-filé ou lombo suíno, acompanhado de macarrão, legumes e arroz branco.
Com uma linha mais popular, o restaurante Bambi era especializado em pratos árabes.
Ainda que a estrutura já fosse suficiente para impressionar qualquer paulistano da época, outros 4 mil metros quadrados foram erguidos em uma reforma de ampliação realizada em julho de 1972, menos de dez meses depois da inauguração. Um sinal de que a resposta do consumidor brasileiro aos métodos japoneses de comércio foi altamente positiva.
De quebra, ao mesmo tempo, começaram as negociações da Yaohan para a construção de uma segunda loja, que seria inaugurada em setembro do ano seguinte na rodoviária da cidade de Sorocaba (SP).
A marca começou a se fortalecer também na mídia brasileira. A Yaohan ganhou um jingle interpretado pela maior estrela oriental do país naqueles tempos: a cantora, apresentadora e atriz Rosa Miyake, hoje com 71 anos.
Ela estampava a capa dos pequenos discos com os jingles, que eram distribuídos nas lojas. No lado B, a mesma Rosa interpretava “Parabéns pra você” (ouça abaixo as duas faixas).
À época, ela apresentava o programa “Imagens do Japão”, patrocinado pela marca. Foi nesse contexto que a Yaohan entrou para patrocinar também um concurso de calouros musicais:
“A ideia foi do produtor Mario Okuhara”, afirma Rosa, que era casado com ele. “Sempre, na abertura do quadro, eu cantava o jingle. Foi o maior sucesso”.
O projeto de expansão do grupo começou a ganhar contornos mais ousados e, assim, vieram também os primeiros fracassos.
No dia 23 de agosto de 1973, a Yaohan fechou contrato para uma filial no Rio de Janeiro, no que seria “o maior shopping center do Rio de Janeiro”. Um mês depois, começaram as negociações com a prefeitura de Marília (SP).
Nenhuma das duas lojas, no entanto, acabou saindo do papel, brecando os objetivos mais ousados de Kazuo Wada e concentrando as forças do grupo na cidade de São Paulo, onde a loja de Pinheiros continuava fazendo sucesso.
Também havia a tentativa de estreitar laços com a matriz japonesa. “Os gerentes ganhavam frequentemente viagens ao Japão para conhecer as lojas de lá”, conta Marie Murakami.
Em novembro de 1973, a Miss Brasil Sandra Mara Ferreira foi convidada pela matriz para uma viagem ao Japão.
A filial brasileira, em Pinheiros, ofereceu um badalado coquetel antes do embarque. Ao mesmo tempo, foram exportados 25 artigos da loja daqui para duas novas filiais japonesas construídas nas cidades de Tóquio e Osaka. Dentre esses itens, os principais eram objetos de praia.
Com os negócios evoluindo muito bem, a rede preparou uma festa para comemorar três anos de Brasil em 6 de agosto de 1974.
Os Originais do Samba fizeram um show onde autografaram exemplares do “Pra que Tristeza”, o LP do grupo que acabara de ser lançado. Uma grande promoção também foi estampada nos jornais.
Para terminar as comemorações, o anúncio de que 500 vagas de emprego seriam abertas para a inauguração da terceira loja: em novembro, a Yaohan abriria as portas no Shopping Center Continental, um novo conjunto comercial que seria inaugurado na Avenida Corifeu Azevedo Marques, em Osasco, Grande São Paulo.
A inauguração do Shopping Continental é um bom exemplo do prestígio do qual desfrutava o Yaohan naquele 1974: nos anúncios antes da inauguração, ainda em setembro, o supermercado era o primeiro colocado na lista de 50 estabelecimentos que já haviam firmado contrato com o shopping.
Com essa loja e outras três (uma inaugurada em maio de 1975 no Butantã e as outras duas em 1976, no Mackenzie Hill de São Bernardo do Campo, e na Estrada de Parelheiros, em Interlagos), o faturamento anual estimado chegou a 250 milhões de cruzeiros (quase 550 milhões de reais segundo o IGP-DI).
A festa de inauguração da nova sede central da filial brasileira, no Jaguaré, em dezembro de 1976, foi uma espécie de canto do cisne da Yaohan no Brasil.
Dali em diante, o grupo mergulhou em uma crise inesperada. A loja no Continental Shopping foi um enorme fracasso, levando ao atraso algumas obras importantes.
Além disso, o custo das importações foi se tornando alto demais para as receitas da empresa. A Yaohan entrou com pedido de liquidação judicial.
Com 157 milhões de cruzeiros em dívidas (163 milhões de reais corrigidos pelo IGP-DI) e 14 empresas pedindo a falência do grupo, os japoneses hipotecaram um imóvel de 250 milhões de cruzeiros (260 milhões de reais) e com área de 5 mil quilômetros quadrados na cidade de Cubatão (SP).
Essa garantia apenas protelou a falência da Yaohan no Brasil. Em maio de 1978, a concordata preventiva conseguida pela empresa foi questionada publicamente pelos credores, que contestavam a decisão judicial e protestavam contra a queda vertiginosa dos seus créditos.
A situação se arrastou até março de 1980, quando a Yaohan desistiu da concordata preventiva e, assim, teve sua falência decretada, encerrando a sua jornada de quase nove anos em terras brasileiras.
“Lamentei muito o fim da Yaohan. Era um lugar muito bom de se trabalhar. A diretoria tinha o maior respeito pelos funcionários e só saí de lá porque me casei”, afirma Marie, que destaca ainda o fato dos salários oferecidos estarem acima do mercado na época.
Um pouco antes da falência definitiva no Brasil, em 1979, a empresa começou a explorar o mercado norte-americano com uma loja na cidade de Fresno, na Califórnia.
Nas décadas de 1980 e 1990, a Yaohan se expandiu para a Ásia, com foco especial nas economias emergentes como Singapura, Hong Kong, China e Macau. Ao mesmo tempo, países americanos como Cuba, Costa Rica e Canadá também ganharam suas lojas.
A Yaohan chegou a ter 22 lojas abertas fora do Japão e alcançou até mesmo o mercado europeu com uma filial em Londres.
A crise econômica do final da década de 1990, porém, atingiu mundialmente a empresa, que acabou sendo vendida em março de 2000 para o grupo financeiro Aeon, que rebatizou os supermercados como MaxValu Tokai.
As lojas espalhadas pelo mundo foram cedidas para diferentes conglomerados internacionais. Em setembro de 1997 foi aberta em Macau a New Yaohan, única loja da atualidade que ainda preserva o nome dos audaciosos empreendedores japoneses que viveram uma aventura no Brasil da década de 1970.Categorias: História, Negócios
Inauguração da Yaohan Data: 02/09/1971 Créditos/Fonte: Crédito/Fonte: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul 02/09/1971
ID: 3262
Rodoviária de Sorocaba Data: 01/01/1973 Créditos/Fonte: Crédito/Fonte: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul 01/01/1973
ID: 8534
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.