Antes de partir, em junho de 1702, fez publicar um novo bando em que dizia (reproduzo palavras de Diogo de Vasconcelos):
"Porque Sua Majestade, a quem Deus guarde, foi servido mandar por sua Real Ordem proibir todo o comércio do sertão da Bahia para este e deste para a Bahia, por assim convir a seu Real serviço, e por que dos sertões da Bahia e Pernambuco tem vindo algumas pessoas pouco observantes desta ordem e se acham nas Minas, ordeno e mando que toda pessoa de qualquer qualidade, estado ou condição que seja, dentro do termo de quatro dias sejam despejados sobre as ditas Minas pelo caminho do Rio de Janeiro com a pena de 10 mil cruzados pagos da cadeia e três anos de degredo para a Nova Colônia; e outrossim as pessoas existentes nas Minas, de uma e outra repartição" (faz referência às minas do Rio das Velhas, as do Carmo e Ouro Preto, que eram regiões administrativamente distintas) "que pois tratar com alguns dos sobretidos em Fazenda de qualquer gênero e valor que seja, vindo da parte da Bahia, incorrerão no valor três dobro em que for avaliada a dita fazenda, da mesma sorte que o vendedor, o que tudo será para a Fazenda Real. E ordeno aos oficiais da Guerra, Fazenda e Justiça façam dar execução a este bando inviolavelmente e do contrário ficam inabilitados de todos os despachos e honras que Sua Majestade poderia fazer, e perderão os postos e ofícios que tiveram. E para que chegue ao conhecimento de todos se publicará este ao toque de caixa."
E comenta o historiador:
"Artur de Sá e Menezes, que tanto incentivara os caminhos do sertão e o povoamento, via-se na angustiosa alternativa de obedecer as ordens do Rei ou de ser incoerente, e tomara a resolução evasiva de publicar as ordens régias somente na véspera de sua retirada das Minas, com o que nem se comprometeu aos olhos do povo nem se arriscou a chegar ao Rei acusado de omisso. Um ato de última hora no Sabará, pois a Ordem de 9 de dezembro deve ter-lhe chegado às mãos em abril... Evidência de uma reviravolta na política da Corte, que, em vez de canalizar e dirigir com proveito o curso dos acontecimentos, tentava ineptamente paralisá-los em país governado a duas mil léguas de distância!"
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.