'Cruz e biscainhos 0 25/11/1549 Please click to see profile.
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   25 de novembro de 1549, sexta-feira
Cruz e biscainhos
      Atualizado em 25/02/2025 04:38:57

•  Fontes (6)
  
  
  


Quando o vento (...) cessou, ficou bom o tempo com o vento de Nordeste. Levantámos então ferro e voltámos arap a terra, já mencionada. Viajámos dois dias, procurando o porto, mas não podemos reconhecel-o.

Percebemos, porém pela terra que tínhamos passado o porto porque o sol estava tão escuro, que não podíamos fazer observações, nem podiamos voltar porque o vento era contrario. Mas Deus é um salvador nas necessidades. Quando estávamos na nossa reza vespertina, implorando a protecção de Deus, aconteceu que nuvens grossas formavam-se ao sul para onde tínhamos sido levados.

Antes de termos acabado a reza, o Nordeste acalmou, de modo a não ser mais perceptível e ovento sul, apezar de não ser a época do anno em que elle reina, começou a soprar, acompanhado de tantos trovões e relâmpagos, que ficámos amedrontados. O mar tornou-se tempestuoso, porque o vento sul, de encontro ao do norte, levantava as ondas, e estava tão escuro que se não podia enxergar.

Os grandes relâmpagos e os trovões intimidavam a tripulação, de modo que ninguém sabia o que fazer, para colher as velas. Esperávamos todos perecer aquella noite, porém Deus fez com que o tempo mudasse e melhorasse; e voltámos para o logar de onde tínhamos partido naquelle dia, procurando de novo o porto, mas não podiamos- reconhecel-o, porque havia muitas ilhas ao pé da terra firme.

Quando chegávamos ao gráo 28, disse o capitão ao piloto que entrasse por detrás de uma ilha e deitasse ancora, afim de ver em que terra estávamos. Entrámos então, entreduas terras, onde havia um porto excellente, deixámos a ancora ir ao fundo e deliberamos entrar no bote para melhor explorar o porto.

CAPITULO IXD E COMO ALGUNS DE NÓS SAHIRAM COM O BOTE PARA RECONHECER OPORTO E ACHARAM UM CRUCIEIXO SOBRE UMA ROCHA. CAPUT IX.

D E COMO ALGUNS DE NÓS SAHIRAM COM O BOTE PARA RECONHECER OPORTO E ACHARAM UM CRUCIEIXO SOBRE UMA ROCHA. CAPUT IX.Foi no dia de Santa Catharina, no anno 1549, que deitámos ancora, e no mesmo dia alguns dos nossos, bem municiados, foram no bote para explorar a bahia. Começámos a pen-3° —sar que fosse um rio, que se chama Rio de S. Francisco, situado também na mesma província, porque, quanto mais nósentravamos, mais cumprido parecia.

Olhávamos de vez en quando, para ver se descobríamos alguma fumaça, porém nada vimos. Finalmente, pareceu-nos ver umas cabanas e para lá nos dirigimos. Eram já velhas, sem pessoa alguma dentro, pelo que continuámos até de tarde.Então vimos uma ilha pequena na frente, para a qual nos dirigimos, para passar a noite por pensarmos haver alli um abrigo. Quando chegamos a ilha, já era noite; mas não podíamos nos arriscar a ir para a terra, pelo que alguns dos nossos foram rodear a ilha para ver si alli havia gente; nias não descobriram ninguém.Fizemos então fogo e cortámos uma palmeira, para comer o palmito, e ficámos alli durante a noite. De manhã cedo, avançámos pela terra a dentro. Nossa opinião era que havia alli gente, porque as cabanas eram disto um indicio.

Ao avançar, vimos de longe sobre uma rocha, um madeiro, que nos parecia uma cruz e não comprehendiamos quem a podia ter posto alli. Chegámos a ella e achámos uma grande cru; de madeira, apoiada com pedras e com um pedaço de fundo de barril amarrado e neste fundo havia gravadas lettras que não podíamos lêr, nem adivinhar qual o navio que podesse ter erigido esta cruz; e não sabíamos se este era o porto onde devíamos nos reunir.

Continuámos então rio acima e levámos o fundo do barril. Durante a viagem, um dos nossos examinou de novo a inscripção e começou a comprehendel-a. Estava alli gravado em lingua hespanhola: Si VEIIU POR VENTURA, ECKYO LA ARMADA DE SU MAJESTET, TIREN UHN TIREAY AuERAN RECADO (se viniesse por ventura aqui Ia armada de su magestad, tiren un tiro y haram recado). Isto quer dizer:

Si por acaso para aqui vierem navios de sua magestade, dèm um tiro e terão resposta. Voltámos então de pressa para a cruz e disparámos um tiro de peça, continuando depois, rio acima, a nossa viagem. Pouco depois, vimos cinco canoas com selvagens, que vieram sobre nós, pelo que apromptámos as nossas armas.

Chegando mais perto, vimos um homem vestido e com barba que estava na proa de uma das canoas e nos parecia chnstão. Gritámos a elle para fazer parar as outras canoas e vir com uma só conversar comnosco. Quando elle chegou perto, perguntámos em que terra nós estávamos, a que respondeu que estávamos no porto de Schirmirein (Xerimirim), assim denominado pelos selvagens, e. para melhor entendermos, acrescentou que se chama Santa Catharina, cujo nome foi dado pelos descobridores.

Alegrou-nos muito isto, porque este era o porto que procurávamos, sem conhecer que já alli estávamos, sendo mesmo no dia de Santa Catharina. Vede, pois, como Deus soccorre aquelle que no perigo o implora com sinceridade. Então elle nos perguntou de onde vínhamos, a que respondemos que pertencíamos aos navios do Rei da Hespanha, em caminho para o Rio de Platta, e que havia mais navios em viagem, que esperávamos, com Deus, chegassem logo para nos unirmos a elles.

A isto elle respondeu que estimava muito e agradecia a Deus, porque havia três anos que ele tinha saído da província Rio de Plata, da cidade chamada Ia Sancion (Assumpção), que pertencia aos hespanhóes, por ter sido mandado a beira mar, distante 300 milhas (482,8km) do lugar onde estávamos, para fazer os Carijós, que eram amigos dos hespanhóes, plantarem raizes que se chamam mandioca e supprir os navios que disso precisassem.

Eram essas as ordens do capitão que levava as ultimas noticia para a Hespanha e que se chamava Salaser (Juan de Salazar) e que agora voltava com os outros navios. Fomos então com os selvagens para as cabanas onde elle morava, e alli fomos bem tratados.

CAPITULO XCOMO FUI MANDADO AO NOSSO GRANDE NAVIO COM UMA CANOA CHEIA DE SELVAGENS. CAPUT X.Pediu então o nosso capitão ao homem que achámos entre os selvagens que mandasse vir uma canoa, com gente que levasse um de nós ao navio, para que este também podesse vir Ordenou-me que seguisse com os selvagens ao navio, tendo nós estado tora já três noites, sem que a gente do navio soubesse que fim tínhamos levado.Quando cheguei a distancia de um tiro do navio, fizeram um grande alarido, pondo-se em defesa e não queriam que chegássemos mais perto com a canoa. Gritaram-me, perguntando como era isto, onde ficaram os outros e como é que vinha sósinho com a canoa cheia de selvagens.Callei-me, não respondi, porque o Capitão me ordenara que fingisse estar triste e observasse- o que fazia a gente do navio. Como lhes não respondi, diziam entre si: aqui ha qualquer cousa, os outros de certo estão mortos e estes agora vêm com aquelle só, para armar-nos uma cilada e tomar o navio. Queriam então atirar sobre nós, porém chamaram-me ainda uma vez.

Comecei então a me rir e disse que estivessem socegados, porque trazia boas novas, por isso permittiram que me aproximasse. Contei então o que se tinha passado, o que muito os alegrou, e os selvagens voltaram sósinhos. Seguimos logo com o navio até perto das cabanas, onde fundeamos para esperar os outros navios, que se tinham separado de nós, por causa da tempestade.

A aldeia onde moravam os selvagens chamava-se Acuttia e o homem que lá achámos chamava-se Johan Ferdinando e era Biscainho, da cidade de Bilba (Bilbao). Os selvagens eram Carios (Carijós) e trouxeram-nos muita caça e peixe, dandolhes nós anzóes en troca.



Olhávamos de vez em quando, para ver se descobríamos alguma fumaça, porém nada vimos. Finalmente, pareceu-nos ver umas cabanas e para lá nos dirigimos. Eram já velhas, sem pessoa alguma dentro, pelo que continuámos até de tarde.

Então vimos uma ilha pequena na frente, para a qual nos dirigimos, para passar a noite por pensarmos haver ali um abrigo. Quando chegamos a ilha, já era noite; mas não podíamos nos arriscar a ir para a terra, pelo que alguns dos nossos toram rodear a ilha para ver si ali havia gente; nias não descobriram ninguém.

Fizemos então fogo e cortámos uma palmeira, para comer o palmito, e ficámos ali durante a noite. De manhã cedo, avançámos pela terra a dentro. Nossa opinião era que havia ali gente, porque as cabanas eram disto um indicio.

Ao avançar, vimos de longe sobre uma rocha, um madeiro, que nos parecia uma cruz e não compreendiamos quem a podia ter posto ali. Chegámos a ela e achámos uma grande cruz; de madeira, apoiada com pedras e com um pedaço de fundo de barril amarrado e neste fundo havia gravadas letras que não podíamos lêr, nem adivinhar qual o navio que podesse ter erigido esta cruz; e não sabíamos se este era o porto onde devíamos nos reunir.

Continuámos então rio acima e levámos o fundo do barril. Durante a viagem, um dos nossos examinou de novo a inscripção e começou a comprehendel-a.Estava alli gravado em lingua hespanhola: Si VEIIU POR VENTURA, ECKYO LA ARMADA DE SU MAJESTET, TIREN UHN TIREAY AuERAN RECADO (se viniesse por ventura aqui Ia armada de su magestad, tiren un tiro y haram recado). Isto quer dizer: Si por acaso para aqui vierem navios de sua magestade, dèm um tiro e terão resposta.

Voltámos então de pressa para a cruz e disparámos um tiro de peça, continuando depois, rio acima, a nossa viagem. Pouco depois, vimos cinco canoas com selvagens, que vieram sobre nós, pelo que apromptámos as nossas armas. Chegando mais perto, vimos um homem vestido e com barba que estava na proa de uma das canoas e nos parecia chnstão.Gritámos a elle para fazer parar as outras canoas e vir com uma só conversar comnosco. Quando elle chegou perto, perguntámos em que terra nós estávamos, a que respondeu queestávamos no porto de Schirmirein (Xerimirim), assim denominado pelos selvagens, e. para melhor entendermos, acrescentou que se chama Santa Catharina, cujo nome foi dado pelos descobridores.

Alegrou-nos muito isto, porque este era o porto que procurávamos, sem conhecer que já alli estávamos, sendo mesmo no dia de Santa Catharina. Vede, pois, como Deus soccorreaquelle que no perigo o implora com sinceridade.Então elle nos perguntou de onde vínhamos, a que respondemos que pertencíamos aos navios do Rei da Hespanha,em caminho para o Rio de Platta, e que havia mais naviosem viagem, que esperávamos, com Deus, chegassem logo paranos unirmos a elles. A isto elle respondeu que estimava muitoe agradecia a Deus, porque havia três annos que elle tinhasahido da província Rio de Platta, da cidade chamada Ia Sancion (Assumpção), que pertencia aos hespanhóes, por ter sidomandado a beira mar, distante 300 milhas do logar onde estávamos, para fazer os Carijós, que eram amigos dos hespanhóes, plantarem raizes que se chamam mandioca e supprir osnavios que disso precisassem. Eram essas as ordens do capitãoque levava as ultimas noticia para a Hespanha e que se chamava Salaser (Juan de Salazar) e que agora voltava com osoutros navios.Fomos então com os selvagens para as cabanas onde ellemorava, e alli fomos bem tratados.

COMO FUI MANDADO AO NOSSO GRANDE NAVIO COM UMA CANOACHEIA DE SELVAGENS. CAPUT X.

Pediu então o nosso capitão ao homem que achámos entre os selvagens que mandasse vir uma canoa, com gente que levasse um de nós ao navio, para que este também podesse virOrdenou-me que seguisse com os selvagens ao navio, tendo nós estado tora já três noites, sem que a gente do navio soubesse que fim tínhamos levado.

Quando cheguei a distancia de um tiro do navio, fizeram um grande alarido, pondo-se em defesa e não queriam que chegássemos mais perto com a canoa. Gritaram-me, perguntando como era isto, onde ficaram os outros e como é que vinha sósinho com a canoa cheia de selvagens. Callei-me, não respondi, porque o Capitão me ordenara que fingisse estar triste e observasse- o que fazia a gente do navio.

Como lhes não respondi, diziam entre si: aqui ha qualquer cousa, os outros de certo estão mortos e estes agora vêm com aquelle só, para armar-nos uma cilada e tomar o navio. Queriam então atirar sobre nós, porém chamaram-me ainda uma vez.

Comecei então a me rir e disse que estivessem socegados, porque trazia boas novas, por isso permittiram que me aproximasse. Contei então o que se tinha passado, o que muito os alegrou, e os selvagens voltaram sósinhos. Seguimos logo com o navio até perto das cabanas, onde fundeamos para esperar os outros navios, que se tinham separado de nós, por causa da tempestade.

A aldeia onde moravam os selvagens chamava-se Acuttia e o homem que lá achámos chamava-se Johan Ferdinando e era Biscainho, da cidade de Bilba (Bilbao). Os selvagens eramCarios (Carijós) e trouxeram-nos muita caça e peixe, dandolhes nós anzóes en troca. encontrou carijos, espanhois e ouro [Hans Staden: suas viagens e captiveiro entre os selvagens do Brasil]

Cotia ou cutia: “o indivíduo que come de pé, de referência ao hábito que tem o animal deste nome de tomar o alimento com as patas dianteiras”.Acutia: “indivíduo que se posta ou se assenta; alusão ao hábito do animal desse nome de se assentar para comer”. Para os índios, este animal simboliza a imprevidência preguiçosa. [Teodoro Sampaio "O Tupi na geografia nacional"]



 Fontes (6)

 1°

Carta Cartográfica da Capitania de São Paulo e seu “certão”
Data: 1764


 2°

Revista do Instituto histórico e geográfico de São Paulo. Volume III
Data: 1898

Os mapas antigos não dão detalhes alguns relativos á antiga via de comunicação entre São Paulo e Sorocaba (...) Sobre a data da abertura da estrada que liga São Roque à Sorocaba não se encontra referência alguma. [Página 182)


 3°

“O Tupi na Geographia Nacional”. Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937)
Data: 1901

Cotia ou cutia: “o indivíduo que come de pé, de referência ao hábito que tem o animal deste nome de tomar o alimento com as patas dianteiras”. Acutia: “indivíduo que se posta ou se assenta; alusão ao hábito do animal desse nome de se assentar para comer”. Para os índios, este animal simboliza a imprevidência preguiçosa.


 4°

Diagnóstico Arqueológico Interventivo na área de influência da duplicação da rodovia Bunjiro Nakaro (SP-250), 2014. Municípios de Vargem Grande Paulista, Cotia e Ibiúna, estado de São Paulo, 2014. Osvaldo Paulino da Silva
Data: 2014

Segundo o historiador João Barcellos estas Koty foram identificadas até a Ilha de Santa Catarina por Hans Staden, que grafou Acutia. Estes pontos estratégicos foram de grande importância nas duas etapas de instalação dos povos europeus no Brasil: na fase das navegações, onde foi privilegiado o contato humano e as trocas mercantis; e na fase de instalação em terras brasileiras pela aristocracia portuguesa, baseada no antigo conceito feudal da posse da terra e do capital.

A sede atual do município de Cotia não está localizado no mesmo local de fundação da primeira Koty, pois a mesma, após a intervenção da Família Sardinha, século XVIII (1701-1800) perdeu sua qualidade funcional (as aldeias que não se moldavam à mobilidade econômica dos luso-paulistas desbravadores tendiam a desaparecer ou mudar sua localização no território).

Conforme discorre Barcellos, a manutenção do nome do município (não somente de Cotia, mas de diversos na região: Koty, Carapocuyba, Barueri, entre outros) talvez tenha se dado pela importância que o Padre Manuel da Nóbrega dava às informações sobre as rotas do Piabiyu, aproveitadas pelos europeus e transformadas (no caso desta região do estado de São Paulo) em rota continental da circulação de riquezas e da expansão colonial:

Com a organização de Asunción e a reorganização de Buenos Aires, a linha comercial entre essas regiões da dita América espanhola e os ´barões´ libertinos luso-americanos que nelas apostam seus ´cabedais´, verifica-se a ascensão política e mercantil da região itaquiana [Koty, Carapocuyba, Santa de Parnaíba, Barueri], e tudo isso, sob o riso escancarado do político e minerador e banqueiro Afonso Sardinha [o Velho], porque é o Piabiyu o caminho que mais engorda os negócios entre lusos e castelhanos. Quando Cotia ainda era denominada aldeia guarani Koty localizava-se nas proximidades da aldeia goayanaz de Carapocuyba, “que também era um portinho de ligação ao rio Anhamby” (atual Tietê).

Esta instalação poderia ser observada do Pico do Jaraguá e assim se definia: ligação em direção ao planalto de Piratininga ou caminho inverso na direção dos campos (Sorocaba) e na ligação de Sorocaba para Araratiguaba (atual Porto Feliz), sendo o mais importante porto do Anhemby em direção aos paranás. Sua principal função era de abastecimento e cobertura logística. Esta trilha foi utilizada pelas bandeiras de Fernão Dias Paes e Antônio Raposo Tavares durante o século XVII. [Páginas 20 e 21]


 5°

Patrimônio Natural e Cultural em uma área de expansão urbana: O Caso da Granja Carolina*
Data: 2014

O primeiro registro em que a localidade é referida como Acutia foi feito por Hans Staden, no século XVI, quando publicou um livro sobre o Brasil.


 6°

familysearch.org
Data: 2022

Cotia era uma povoação de beira de estrada, ponto de parada para os tropeiros, por onde passava uma das principais rotas que interligavam São Paulo ao sul do país e ao oeste do Estado, que corresponde atualmente à rodovia Raposo Tavares cujo nome é uma homenagem aos bandeirantes que estabeleceu esta rota e praticamente definiu as atuais fronteiras do Brasil ao sul. Mais tarde, a cidade passou a chamar-se Cuty e depois Acutia. O primeiro registro em que a localidade é referida como Acutia foi feito por Hans Staden, no século XVI, quando publicou um livro sobre o Brasil.


O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.

Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?



Quantos ou quais eventos são necessários para uma História?
Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.


Mary Del Priori, historiadora:

Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.

Lia Calabre, historiadora:

A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]

Quantos registros? Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:

- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).

- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.

- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.

- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.

- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.

- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.

Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.

Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.

Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.


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