Ainda há de se levar em conta o episódio do Êxodo de Capivari, quando centenas de escravos liderados por Preto Pio abandonaram as fazendas daquela cidade numa fuga em massa, passando por Porto Feliz, Sorocaba, São Paulo e rumando até Santos para o Quilombo do Jabaquara.
Essa fuga, ocorrida em fins de outubro de 1887, certamente convenceu os últimos renitentes senhores de escravos de que a instituição da escravatura não tinha futuro. Afinal foi um evento de proporções assustadoras, repercutindo na decisão do Clube Militar em oficiar ao império comunicando a sua decisão de não mais perseguir escravos fugidos.
Toda essa introdução se faz necessária para que não reste dúvida de que a abolição antecipada não ocorreu por conta de um crescimento da consciência da elite sorocabana que, estrategicamente, escolheu a noite de Natal para emancipar seus escravos. A despeito da suposta boa intenção de alguns, o que se pretendia mesmo era continuar explorando a mão-de-obra do negro de alguma forma.
Um exemplo disso é que boa parte das cartas de alforria dessa época eram condicionais, ou seja, o ex-escravo para conseguir sua liberdade completa se comprometia a trabalhar alguns anos para o mesmo senhor. Outro fato que corrobora a afirmação acima é que alguns senhores, passados meses da abolição antecipada – certamente acreditando que o governo imperial acabaria com a escravidão ainda em 1887 ou começo de 1888 – arrependeram- se e procuraram re-escravizar os antigos cativos.
[3633] História do Brasil: Guerra à vadiagem e a exploração do negro. Por Carlos Carvalho Cavalheiro, em "Por Dentro da África" 23/10/2018
Essa parte inferior que era "coisa", porque escrava, ou que era tratada como bicho, como nós tratamos gente camponesa, a gente que está por baixo, a gente miserável, essa gente que estava por baixo, foi despossuída da capacidade de ver, de entender o mundo. Porque se criou uma cultura erudita dos sábios, e se passou a chamar cultura vulgar a cultura que há nessa massa de gente.
Data: 01/11/1977 Fonte: José Viana de Oliveira Paula entrevista Darcy Ribeiro (1922-1997)*