O bem inspirado provedor da Misericórdia, remetia a 15 de julho de 1841, ao ministro do Império o seguinte oficio
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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PeriódicosInstituto Municipal Nise da Silveira - IMNSCentro de Estudos Treinamento e Aperfeiçoamento Paulo ElejaldeBiblioteca Alexandre PassosARQUIVOS BRASILEIROS DE NEURIATRIA E PSIQUIATRIA. Rio de Janeiro, n.6, p. 286-292, ano 18, nov./dez. 1933.Primeiro Hospital Psquiatrico do BrasilPeloDr. Cunha LopesDocente de clinica psiquiátrica da Universidade do Rio de Janeiro18 de julho de 1841. Nesta data, há 94 anos, é assinado pelo imperador D. Pedro II o decreto da fundação do primeiro hospital psiquiátrico do Brasil.Essa casa, quase secular, que acolhe de braços abertos todos os infelizes que perderam a razão, precisa não ficar votada ás sombras do esquecimento.Rememoremos, pois, a sua história.Em 1830, começa a cidade do Rio de Janeiro a reclamar instantemente um serviço de assistência aos insanos. A classe medica insiste no sentido dessa iniciativa e a Academia Imperial de Medicina retoma o seu apelo desejosa de ver realizado esse humanitário ideal. Um dos primeiros médicos que tomaram a serio essa grande empreitada foi o dr. De- Simoni, que escreveu oportuna memória provando a necessidade da construção de um hospital em que os doentes mentais pudessem ser submetidos a tratamento conveniente, pois que jaziam reclusos em subterrâneos humidos e escuros do hospital da Misericórdia.Esse apelo, reiterado pelos anos seguintes e amparado pelos espíritos mais filantrópicos abnegados da época, teve seu feliz epílogo no relatório apresentado por José Clemente Pereira, então provedor da Santa Casa da Misericórdia, em 25 de julho de 1840, onde profeticamente disse: " Não sei que espírito de previdência me inspira, a chácara do vigário geral há de um dia converter-se em hospício de alienados."Inspirado, sem duvida, andava José Clemente Pereira.UNE IDE´E EST UNE ACTION VERS UM BUT: eis a máxima de um filosofo francês.Efetivamente, dois lustros passaram-se no afago idealístico da grande realização benemerente. E, ano após o relatório, o bem inspirado provedor da Misericórdia, remetia a 15 de julho de 1841, ao ministro do Império o seguinte oficio:" O zelo de melhorar a sorte dos infelizes que tendo a desgraça de perderem o juízo, não encontrarão nesta Capital hospital próprio, onde possam obter tratamento adequado á sua moléstia, por serem insuficientes as enfermarias, onde são recebidos no hospital da Santa Casa, me faz lembrar a necessidade de dar-se principio a um hospital destinado privativamente para tratamento de alienados; e debaixo destas vistas dei principio a uma subscripção aplicada ao dito fim, que monta já á quantia de 2:500$; e espero que hoje mesmo esteja elevada a mais, segundo informações de pessoas encarregadas de a promoverem em diversos lugares desta província. Felizmente os meus votos são hoje auxiliados por outra subscripção que a comissão da praça do comercio desta corte acabada pôr a disposição de S.M. o Imperador para ser aplicada a fundação de um estabelecimento de caridade, que for mais de seu imperial agrado.E como nenhum outro possa ser mais importante; e S.M o Imperador se dignasse de declarar-me que deseja ardentemente proteger esta instituição, opresso-me em por a disposição do mesmo Senhor a sobredita quantia, que existe já arrecadada, com a qual, junta a da subscripção promovida pela comissão da praça do comercio, se póde dar principio a obra, na certeza de que a piedade dos fieis lhe dará andamento com generosas esmolas.E como seja indispensável lugar salubre e apropriado, com terreno suficiente para as comodidades e larguezas, que estabelecimentos de semelhante natureza exigem, poderá o referido estabelecimento fundar-se na chácara que a Santa Casa de Misericórdia possue na praia Vermelha, denominada do Vigário Geral, e onde existe já uma enfermaria de alienados que tem obtido melhoramentos, e alguns até um total restabelecimento; e há a possibilidade de comprar-se uma casa para enfermarias de homens, que se vende por 6:000$. E porque em tais fundações a construção do edifício é pouco em comparação da despesa ordinária para sustento dos estabelecimentos, a Santa Casa de Misericórdia não terá dúvida em tomar esta a seu cargo, uma vez que se lhe confie a administração, como será de razão, e até conveniente, pois fornecerá o terreno e a subsistencia futura do novo hospital; acresce que gosa do merecido conceito de administrar bem seus estabelecimentos, que todos prosperão por uma maneira espantosa. Digne-se V. Ex. de levar todo o referido á soberana presença de S.M. o Imperador para que haja bem ordenar o que for mais do seu imperial agrado; e fará um ato que eternizará o fausto dia da sagração e coroação do mesmo augusto Senhor, a fundação de um hospital de alienados, que poderia bem tomar o nome de Hospício D. PedroII. D. G. a V. Ex. Santa Casa de Misericórdia 15 de julho de 1841. Illmo. Exm. Sr. Candido José de Araújo Vianna, ministro e secretario de estado dos negócios do império, José Clemente Pereira."A impressão causada por esse oficio produziu resultado que não se fez esperar. Devo a copia, que aqui ponho, ao Sr. Eliseu Linhares, atual administrador do Hospital Psiquiátrico.Em 13 de julho de 1841, assinava-se o decreto de fundação do hospital que se chamou Hospício de Pedro II, porque nesse dia também se realizou a solenidade da sagração e coroação do segundo imperador do Brasil. Era então o Hospício Pedro II anexo Hospital da Misericórdia. Esta anexação foi aceita pelo provedor a 6 de agosto de 1841, sob a condição de que o estabelecimento fundado só serveria para tratamento de alienados e nunca para outro destino; que deveria ser edificado na Chácara do Vigário Geral, na praia da Santa Cecília, e que seria mantido com o rendimento da Santa Casa de Misericórdia.Em 3 de setembro de 1842, lançou-se a pedra fundamental e o dia 5 iniciou-se a construção do edifício que hoje se ergueu na outrora chamada praia de Santa Cecília.Em 1846, José Ribeiro Monteiro ofereceu a D. Pedro II o terreno da chácara da Capela, na Praia Vermelha, e outros contíguos para uma metade ser incorporada ao Hospício e outra ficar a disposição do monarca. Em 14 de setembro desse mesmo ano, ordenou S.M. Imperial que se cumprisse a vontade do doador.Em 19 de junho de 1850, a Assembléia provincial do Rio de Janeiro concedeu duas loterias para as obras do Hospício e, ainda nesse ano, o decreto de 10 de julho votou para esse fim e para manutenção dos alienados mais 20 loterias.Em 1852, a 30 de novembro, com a presença do Imperador, benzeu-se o edifício e sagrou-se a capela; 15 dias depois, inaugurou-se o estabelecimento, celebrando pontificial monsenhor Narciso da Silva Nepomuceno, e produzindo sermão alusivo á solenidade o padre frei Antonio do Coração de Maria. A orquestra foi regida pelo maestro Francisco Manoel da Silva. Após o ato religioso, foram lidas as atas das sessões da mesa conjunta da Irmandade da Santa Casa de onde constava ter a administração tomado a si a tarefa do levantamento do hospital e a elevação duma estatua ao Imperador para perpetuar a memória da fundação. Finda a leitura, foi descerrada a cortina que cobria a estatua. Seguiram-se discursos de José Clemente Pereira, doutores José Martins da Cruz Jobim, diretor da Faculdade de Medicina, e Francisco de Paula Candido. Por essa ocasião, suas Majestades Imperiais aceitaram uma refeição oferecida pela Irmandade.Os terrenos constantes da Chácara do Vigário e da doação de José Ribeiro Monteiro deram a superfície em que se erigiu o hospital. Somente a dita Chácara do Vigário compreendia 1562 braças quadradas.Foi a 3 de dezembro desse ano de 1562 que teve inicio o funcionamento do Hospício de Pedro II. Constituíram o primeiro núcleo de insanos ai internados 140 doentes, 67 vindos da enfermaria provisória da Praia Vermelha e 73 provenientes da Santa Casa de Misericórdia. As obras, porém, do grandioso edifício só foram concluídas em 1855. Novas loterias foram então concedidas pela lei provincial de 29 de outubro de 1856 e pelo decreto de 10 de setembro do mesmo ano: a primeira concedia uma loteria por ano e o segundo, 30 loterias para o patrimônio do hospital.A engenharia sanitária do segundo Império legou-nos no sumptuoso palácio da Praia Vermelha empolgante atestado de sua capacidade realizadora. A planta dessa esplendida construção granítica foi traçada pelo engenheiro Domingos Monteiro, sendo desenho do engenheiro Guilhobel, com modificações de José Maria Jacinto Rebelo o artístico pórtico. Embora destinada aos loucos, essa casa não esqueceu a importância que a arte representa nos anseios humanitários da ciência.Relembrando em merecedora homenagem expoentes da psiquiatria francesa, foram as estatuas de Pinel e Esquirol colocadas no saguão do edifício. Custavam essas estatuas 1:400$. Em marmore, foi colocada na capela a imagem de São Pedro de Alcântara esculpida por Pettrich, a qual custou 5:000$. A estatua, que rememora a fundação do Hospício, encontra-se no salão nobre. E´magnifica obra trabalhada pelo escultor Pettrich, em fino mármore de Carrara, representando D.PedroII revestido de capa e cetro. Atentando no alto valor de nossa moeda naquela época, podemos fazer aproximado juízo do custo dessa obra que importou em 10:711$984.Por falecimento de José Clemente Pereira, a 10 de Março de 1857, um decreto do Imperador mandou que fosse colocada a estatua desse benemérito em frente á sua. Assim, a 19 de junho de 1857, foi inaugurada a estatua de José Clemente Pereira em obediência ao decreto imperial de 13 de março dessa ano, como "monumento de gloria que ergue o Imperador para si e para o provedor da Misericórdia".E´interessante lembrar que a construção do Hospício Pedro II importou em 1.313: 451$841.Foi seu primeiro diretor medico o Dr. Manuel José Barbosa, que, por haver recusado alta a um louco, escapou de ser assassinado. Existiam, por essa ocasião, os lugares de escrivão, tesoureiro e procurador, que fôram, respectivamente, desempenhados pelo dr. Diogo Soares da Silva Bivar, pelo barão de Bomfim e por Francisco José da Rocha Junior. O primeiro regimento interno foi aprovado em 14 de março de 1858. No hospital admitiam-se gratuitamente os loucos indigentes.Um aviso expedido a 11 de agosto de 1862 informa-nos que ali prevaleciam as seguintes diárias para pensionistas: de 1ª classe, cinco mil réis; de 2ª, três mil réis e de 3ª dois mil réis. A lotação do hospital comportava nessa data 350 doentes.Não devem passar sem comentários certas zombarias que a historia nos transmitiu e que mui naturalmente tiveram curso durante os dez longos anos da construção de nosso primeiro hospital psiquiátrico. Alguns espíritos pouco penetrantes e incapazes da inspirada compreensão social de José Clemente Pereira, julgavam inútil tanta sumptuosidade e tão vasto palácio para encerrar doidos. O espírito derrotista, que vive ainda, não abalou todavia o animo daquele bemfeitor. E não passou muito tempo, apenas um ano e nove meses, de regular funcionamento, tácita resposta era dada aos conceitos malavisados. A lotação do grande Hospício já se havia excedido. Dil-o o aviso de 4 de setembro de 1854, que proíbe a admissão de alienados das províncias sem previa autorização do ministro do Império.Em 1876, foi colocado no salão nobre o busto do comendador Tomé Ribeiro de Faria, a lado de quem, talhado em mármore, figura esse outro assinalado bemfeitor que se chamou Joaquim de Babo Pinto.Rememoram-se aqui as principais datas inscritas nas efemérides antigas. Em 11 de janeiro de 1890, foi o então Hospício Nacional desanexado da Santa Casa de Misericórdia. A história moderna da assistência a psicopatas no Brasil teve inicio com a lúcida atuação medico- filosófica do grande sábio e mui saudoso mestre Juliano Moreira. Ela está ainda muito viva na memória de todos para ser descrita. As árvores frondosas melhormente se destacam quando vistas na floresta ao longe. Nessa obra colaboraram os antigos chefes de serviço Austregésilo, Gotuzzo, Jefferson de Lemos, Ulisses Viana, Mario Pinheiro e Roxo, atual catedrático de clinica psiquiátrica em nossa Faculdade.Quatro datas memoráveis da psiquiatria brasileira assinalam os seguintes acontecimentos: a fundação do Hospital Nacional, em 18 de julho de 1841: a criação do ensino psiquiátrico no Brasil, em 30 de outubro de 1832; a volta do antigo Hospício Pedro II á administração do Estado, em 11 de janeiro de 1890; a promulgação da lei federal de assistência a alienados, em 22 de dezembro de 1903.Agora, sob a direção de Waldomiro Pires, se projeta ampla reforma, que certamente marcará nova data.Eis, em traços rápidos, alguns subsídios históricos me pareceram interessantes fornecer aos estudiosos da evolução de assistência aos insanos no Brasil e especialmente na cidade do Rio de Janeiro.Rio, 18 de julho de 1935.
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.