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   14 de junho de 2017, quarta-feira
Bandeirantes, 14.06.2017. Eduardo Bueno
      Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

  
  
  


00Verdadeira história de São Paulo foi escrita a fogo e a sangue pelos bandeirantes.0:05E é isso que você vai ficar sabendo aqui, no "Não Vai Cair no ENEM".0:11Sou caboclo regionário. Um bandeirante paulista. Combatente voluntário. Os bandeirantes, embora tenham tido um papel fundamental na história do Brasil, não faziam parte dela, enquanto essa história estava sendo escrita aqui, no Rio de Janeiro.

0:27Sim, estamos no Rio de Janeiro.0:29Porque, quando o Brasil se torna independente de Portugal,0:34os "neo-brasileiros", embora fossem portugueses,0:37concluem que o Brasil não tinha história.0:41Sua história era apenas aquela que Portugal contava.0:45Então, em 1838, 16 anos depois da Independência,0:49se cria o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.0:53

Em 1845, é lançado um concurso pelo D. Pedro II com o título "Como se Deve Escrever a História do Brasil", concurso esse vencido por um alemão, Von Martius, que escreveu um livro que durante anos foi o guia-mestre, o guia-base para se contar a história do Brasil. Nele, não tinha nenhum bandeirante.

1:14Até porque este nome nem existia.1:15Porém, quando São Paulo começa a enricar graças à lavoura do café,1:22os paulistas olham e dizem assim: "Pô, mas a história é contada só por carioca, lá na Corte, no Rio de Janeiro.1:29E não é a história verdadeira!1:30A história verdadeira vamos contá-la nós!"1:33E é muito incrível, porque isso ainda por cima começa a acontecer no Museu do Ipiranga.1:38E ali, nos anos 20, do século XX, surgiram estudiosos que disseram:1:44"Está na hora de contarmos a verdadeira história do Brasil."1:47E inventaram os bandeirantes.1:50Claro que os bandeirantes existiram.1:52Claro que os bandeirantes tiveram uma ação efetiva e intensa na história do Brasil.1:57Só que essa história não era contada, porque os bandeirantes agiram fora da lei.2:01Porque os bandeirantes não eram os três mosqueteiros, eles não se vestiam com aquelas roupas2:05que eles aparecem nesses quadros do Museu do Ipiranga.2:08Domingos Jorge Velho. Raposo Tavares. Anhanguera. Amador Bueno. Não. Na vida real2:13eles andavam de pés descalços, com roupas quase esfarrapadas, falavam praticamente só tupi e2:19eram quase que exclusivamente caçadores de índios. Piratas do sertão.2:24Gente que vivia do que roubava.2:26E a frase "Gente que vivia do que roubava" não é minha, é do Conselho Ultramarino português,2:30que quando viu as ações do Domingos Jorge Velho, que foi contratado para atacar o Quilombo dos Palmares,2:37em Alagoas, para atacar o Zumbi, foi contratado pelo Conselho Ultramarino, que disse:2:42"É gente bárbara que vive do que rouba."2:44Inclusive, quando o bispo de Pernambuco conheceu esse mesmo Domingos Jorge Velho, disse:2:50"É um dos maiores selvagens com os quais tenho topado. "2:54E a conversa entre Domingos Jorge Velho e o bispo de Pernambuco, teve que ter um intérprete,2:59porque o Domingos Jorge Velho praticamente só falava a língua geral. Que é o tupi.3:03Cara, isso explica facilmente porque que esses bandeirantes surgiram em São Paulo,3:08inclusive eles eram chamados de paulistas e de sertanistas.3:11O nome bandeirantes surgiu muito tempo depois. Surgiu no final do século 19.3:16Eles eram sertanistas, porque viviam no sertão, e sertão você sabe o que quer dizer sertão, claro, né.3:22Sertão quer dizer "desertão". É. Eram vastas extensões de terras3:27selvagens, selváticas, pelo interior do Brasil, só que elas não estavam desertas, né.3:32Elas estavam ocupadas por milhares de indígenas, se calcula que, inclusive que os3:36bandeirantes ao atacar-lhes as missões jesuíticas: as missões no Guairá, do Paraná;3:41do Itatim, no Mato Grosso; do Tape, no Rio Grande do Sul.3:45Atacarem esses lugares que os jesuítas tinham criado, as reduções, teriam escravizado3:50356.720 indígenas.3:55Segundo os cálculos de um historiador, chamado Alfredo Ellis Jr., mas parece que foi3:59356.720,5. Porque tinha um anão, que ele esqueceu de contar, não sei se é o anão do Game of Thrones.4:05Mas o fato, é que ao atacarem essas missões, os bandeirantes paulistas teriam4:11escravizado em torno de 400 mil índios,4:15destruíram essas missões e trouxeram esses índios para serem vendidos como escravos em São Paulo,4:20para trabalhar na Baixada Santista e na lavoura canavieira do Nordeste do Brasil,4:24esses bandeirantes muito apropriadamente não viraram nome de rua, né.4:28Eles são nome de estrada, tamanha a locomo-, o jeito que eles se locomoviam inacreditavelmente,4:33mesmo pelo Brasil, alguns deles caminharam 3 mil, 4 mil quilômetros, a pé.4:37O que mais se notabilizou deles é o Raposo Tavares.4:40Raposo Tavares tem uma história bem interessante, né, o pai dele chegou no Brasil fugido por4:44ter roubado dinheiro da coroa, mesmo assim virou um dos capitães-mores de São Vicente, na Baixada Santista,4:50do lado de Santos, em São Paulo, depois o próprio Raposo Tavares morou e viveu em São Paulo,4:54a vida inteira e atacou as missões no Rio Grande do Sul, em 1627, né.4:59Depois, por volta de 1640, ele fez uma jornada que se iniciou em São Paulo e o levou até a Bolívia5:05quase até os Contrafortes dos Andes e ele desceu pelos rios formadores do5:10Amazonas até Belém do Pará, em Belém do Pará voltou para São Paulo, tudo a pé ou em canoas indígenas.5:15Quando chegou em São Paulo, não foi reconhecido nem pela pró-, nem pelo próprio cão.5:21Verdade, o cachorro dele, que nem o cachorro do Ulisses, na Odisseia, latiu para ele,5:25quando ele voltou, e o cão latiu e depois desfaleceu.5:29Como se constituíam essas bandeiras. Elas eram basicamente feitas por:5:33um capitão-mor, com poder de vida ou morte sobre as pessoas que o acompanhavam;5:39uma dúzia de homens brancos, absoluta maioria deles paulistas, nascidos em São Paulo;5:43300 ou 400 mamelucos, ou seja filhos de mãe indígena com o pai português;5:49e às vezes até 2 mil índios, ou escravos, ou domesticados. Essas bandeiras se punham em marcha5:56partindo, a partir, de São Paulo, porque São Paulo ficava no centro de uma rede de trilhas indígenas6:01é incrível. É incrível. Todas as grandes estradas brasileiras6:04eram trilhas pré-históricas percorridas pelos índios.6:07A Régis Bittencourt, que vai de São Paulo a Curitiba e ao sul do Brasil,6:11a Via Anchieta, a Imigrantes, Via Dutra, a Castelo Branco, a Fernão Dias,6:16todas essas estradas que unem, que tornam São Paulo a capitão-, capital geográfica6:22do Brasil, e que unem São Paulo a todo o resto do Brasil eram, originalmente, percorridas pelos índios,6:28os bandeirantes que aprendem a viver que nem os índios, a caminhar em fila indiana, que nem os índios,6:33a sobreviver na mata comendo mel silvestre, comendo palmito,6:38vivendo de caça e de pesca, criando abrigos de folhas, tudo.6:42Uma técnica de sobrevivência tupi, todas elas aprendidas pelos paulistas.6:47E aí quais são os principais bandeirantes, a gente ia acabar sabendo os nomes de cabeça:6:51Fernão Dias, que é um cara que ficou sete anos no sertão procurando esmeraldas, encontrou turmalinas,6:57achavam que eram esmeraldas e morreu feliz da vida, sem saber que não tinha encontrado nada de real valor;7:03Raposo Tavares, né, do qual eu já falei, que é o bandeirante por excelência;7:06O Anhanguera ia ser uma maravilha, né, que é o cara que pôs fogo na cachaça dizendo7:11"É água", mostrou para os índios, "Água" botou fogo, Anhanguera, o Diabo Velho,7:15Bartolomeu Bueno da Silva, um homem de uma crueldade impressionante;7:18Domingos Jorge Velho, que é o cara que combateu o Quilombo dos Palmares;7:23então, e outro bandeirante que se notabilizou, é o Borba Gato, se notabilizou tanto que virou um "monstromento",7:30é, como é chamada uma estátua de ladrilhos que tem em São Paulo, que é a coisa mais quite,7:35daquela cidade já quite por si, porque os bandeirantes foram chamados de raça de gigantes7:41por esses historiadores do Museu do Ipiranga, né, e viraram gigantes mesmo,7:45principalmente gigante de ladrilho.7:47Outro momento engraçado dessa história dos bandeirantes, que vale a pena ressaltar,7:50é que em 1954, São Paulo completou 400 anos, então esses 400 anos fizeram com que houvesse7:58uma grande celebração da história de São Paulo, a inauguração do Parque do Ibirapuera,8:04grandes exposições e "paralá", e daí surgiram os paulistas "quatrocentões", todos muito ricos,8:09muitos deles cafeicultores, e aí se orgulhando das suas origens, só que as origens deles8:14eram justamente esses caçadores de índios, esses piratas do sertão.8:18Né, mas é. Aí.8:20Só que eles já tinham virado, quase, uma nobiliarquia, né, e esses caras viraram heróis,8:24é impressionante, eles não tiveram nada de herói, e é assim que encerro esta história.8:29A história é fabricada,8:31a história é inventada e teve um lado muito legal de São Paulo8:36inventar esses seus heróis, que aliás são a cara de São Paulo, para contrapor a essa história8:41contada no Rio de Janeiro pelo Instituto Histórico Geográfico,8:44entendeu. E pelo menos eles criaram genuínos heróis brasileiros.8:49Genocidas, assassinos e heroicos.8:52É isso, você só vai ouvir essa história aqui, no "Não vai cair no ENEM", comigo Eduardo Bueno.8:58O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações,9:02mas o quadro geral era esse aí mesmo.9:04Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, então você vai ter que ler.


Registros mencionados

20 de fevereiro de 1677, sábado
O termo “Bandeira” é usado pela primeira vez
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

• Fontes (2)

• Temas (5): Bandeirantes; Pela primeira vez; Rio São Francisco; Curiosidades; Nheengatu

O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.

Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?



Quantos ou quais eventos são necessários para uma História?
Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.


Mary Del Priori, historiadora:

Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.

Lia Calabre, historiadora:

A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]

Quantos registros? Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:

- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).

- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.

- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.

- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.

- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.

- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.

Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.

Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.

Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.


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