4 de maio de 1875, terça-feira Atualizado em 20/10/2025 20:24:33
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No dia 28 do mes passado, ás 16:30, deu-se um fato que encheu de consternação os habitantes desta vila e trouxe o luto á uma família numerosa.Estavam diversas pessoas conversando á soleira da porta do palacete do tenente-coronel Fernando de Souza Freire, vice-presidente da Câmara Municipal, quando de súbito um estrondoso tiro de bacamarte soou, lançando por terra o mesmo tenente-coronel, que apenas pode pronunciar estas palavras: "Eu morro... minha mulher... meus filhos... é o meu escravizado Generoso".
O dr. juiz municipal que descia a rua da Penha, aproximou-se do grupo, e perguntando ao tenente-coronel Fernando que estava prestado no chão - o que é isso! - ainda ouviu-lhe aquelas mesmas palavras, perdendo logo o ofendido a fala.
Referiu-nos o comendador Luiz Vergueiro, seu hóspede, e que na ocasião conversava com o finado, que estavam todas sentados á porta, quando passando alguns amigos ergueram-se para falar-lhes, o que, retirando-se estes, ficou só Fernando de pé com as costas para a rua, quando dai a dois segundos viu o clarão do tiro, e cair aquele, voltado para o lado em que fugia o assassino, pronunciando em alta voz as palavras que acima deixamos ditas.
Generoso, o assassino, era escravo do finado, e achava-se foragido ha 15 meses: na antevéspera sendo encontrado pelo capataz de tropas do comendador Vergueiro, sentado junto á encruzilhada, conhecida por Cruz de Ferro, armado de bacamarte e faca, foi por ordem de seu senhor espreitado por alguns escravos, e dizendo estes que ele entrára em casa de Bárbara de tal, no bairro da - Terra Vermelha - o tenente-coronel obteve um mandado de prisão contra ele, sendo que a escolta já o não encontrou ali.
É de admirar o sangue frio do malvado assassino: aproveitando a sombra da noite, foi pelo lado da rua Direita, e á queima-roupa desfechou o tiro que deu em resultado a morte de um respeitável cidadão e estremecido chefe de família.
Depois de ter disparado o tiro, houve um verdadeiro pânico, que fez com que as pessoas que ali estavam não perseguissem o malvado: mais adiante, porém, ele que retirava-se em meia carreira, foi perseguido por dois escravos do finado e dois moços que pela luz que projetava o lampião do hotel das Flores reconheceram ser o escravo Generoso: vendo-se este perseguido, parou na Travessa do Bom Jesus, e abrindo o ponche com que estava, voltou-se de frente para os que o seguiam, e observando que estes também pararam, disparou em vertiginosa carreira, gritando também: - péga, péga - conseguindo escapar por um dos becos da rua do hospital, que conduzem ao brejo do Supiriry.
À polícia bateu as matas circunvizinhas á cidade, voltando ao amanhecer sem conseguir capturá-lo.
A 29 foi sepultado o assassinado, sendo o seu féretro acompanhado por muitas pessoas gradas desta cidade e por crescido número de irmãos da Misericórdia.
Era o finado o mais abastado cidadão desta localidade, genro do nosso presado amigo dr. José Maria de Souza, e cunhado do dr. Assis Vieira Bueno.
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