95 dias de viagem, 1.200kmArthur de Sá e Meneses Assume o governo em 12 de julho de 1697
E ele também escreveu, foi ele que escreveu essa carta no dia 20 de maio de 1696, elemandou uma carta pro rei de Portugal dizendo "chegou a tal necessidade e a tal extremoa fome daqueles que cavocavam, ou mandavam cavocar as minas, que eles se aproveitavamde qualquer forma de comida, inclusive dos mais imundos animais cuja ingestão resultavana sua própria morte.E, por causa disso, muitos abandonaram as minas".
E aí em 1698, no dia 10 de outubro de 1698, ele parte em direção às minas, esse Arturde Sá e Meneses, com um séquito de 70 pessoas!Bah, e tudo pago pelo erário!Eu queria ir junto nessa expedição, tal, papapá, passa por SP, pacifica SP, São Paulosempre enchendo o saco, ali o tal "Tigre", a briga entre os Camargo e os Pires, uma loucuraem SP, matança criando engarrafamento ali na margem do Tietê, ele apazigua SP e partepara as minas.
E em 1699, ele autoriza que um cara chamado Garcia Rodrigues Pais, que era filho do FernãoDias Pais, né, que um dia vai ganhar um episódio, abra um novo caminho, abra um novo caminholigando as minas, né, ali a região dos Cataguases e do Caeté até Barbacena, de Barbacena praJuiz de Fora, de Juiz de Fora pro Rio de Janeiro.Esse vinha a ser chamado o "caminho novo", né.Só que o Garcia Rodrigues, ele abriu esse caminho das minas pro Rio, e não ao contrário,isso acabou causando um problema porque eu vou te dizer como é que era esse caminhodo Rio pras Minas.Era assim: primeiro, partia ali do Cais dos Mineiros (olha o nome), que é o que, é aatual Praça Mauá!O Cais dos Mineiros era um cais bem pequeninho numa prainha, chamava prainha, que ficavaentre o morro de São Bento e o morro da Conceição, era dali que partiam os baleeiros, tambémna época que eles mataram tudo que era baleia da Baía de Guanabara, né, partia de barcodali pela Baía de Guanabara e ia... dava uma paradinha na Ilha do Governador, da Ilhado Governador seguia e entrava pelo rio Iguaçu, que na época era fundo e que agora tá todoassoreado e horroroso, e ia do rio Iguaçu até um lugar chamado Pilar de Iguaçu, queera um porto que fica no município hoje de Duque de Caxias.Inutilizado como porto, tudo assoreado, tudo podre, tudo horroroso, que nem ali o fundoda Baía de Guanabara, e a Baixada Fluminense, que é um retrato do Brasil, né.Tu quer um retrato mais fiel do Brasil do que as condições sanitárias, do que o esgotoa céu aberto, do que aquele horror do fundo da maravilhosa, da mágica, da transcendenteBaía de Guanabara!?Não, né.Tu não quer.É esse o retrato.E aí do Pilar de Iguaçu ia a pé, mais ou menos 12km, até Xerém.Xerém também no município de Nova Iguaçu, e daí de Xerém também subia a serra, sóque subia a serra com um radicalismo total, até um lugar chamado Pati do Alferes, queainda existe!Era uma subida radical, e as pessoas caíam ali, e um monte de índio puri e índio colorado...Coroado!13:14Colorado aqui não tem!Índio coroado...Hehe.13:19Se bem que podia ter uns índio colorado ali também né.13:23E aí atacavam as mulas, atacavam as pessoas, era horroroso, né, e aí foi construído13:29com tempo ali depois o tal Caminho dos Correias, que daí chegava lá no fundo da baía, no13:34Porto da Estrela, um lugar incrível, tá lá abandonado, jogado, onde o Barão de Mauá13:40anos depois faria a sua ferrovia, chegava ali no Porto da Estrela, do Porto da Estrela13:44ia ali por um rio, hoje assoreado, e subia a serra como quem vai hoje para Petrópolis,13:51e aí o caminho realmente se solidificou.13:53Esse caminho deu mil rolos, mil coisas, porque o Garcia Rodrigues Pais ganhou o direito de14:04estabelecer ali uma série de pedágios, né, direitos de entrada e direitos de saída,14:14né, pra ganhar dinheiro com aquele caminho que ele tinha aberto às próprias expensas,14:20né.14:21E não queriam pagar e aí começaram os tais descaminhos.14:24Não é maravilhoso?14:26Foram proibidos os descaminhos.14:29Descaminhos eram as trilhas alternativas que não seguiam aquele caminho ali, né, que14:34era o caminho oficial onde ficavam os registros, onde ficavam os pedágios e os registros,14:42as casas onde você tinha que registrar o ouro, embora se saiba que pelo menos um terço,14:45um terço do ouro achado nas gerais se extraviou por contrabando, por desvios de rota e de14:52verba porque os caras não queriam pagar o quinto, né, uma quinta parte era da Coroa,mas além de tudo tinha impostos de entrada, qualquer galinha, qualquer gado, qualquercomida que fosse levada pagava um dinheirão pra entrar e os impostos de saída que vocêtambém pagava pra respirar, como a Coroa portuguesa sempre fez com os seus súditos,né.E aí tem um relato que eu vou te ler, muito incrível...O próprio livro tem uma história incrível, sabe.
Em 1711 foi publicado o primeiro livro do primeiro cara que realmente coletou toda ahistória dessas minas, embora nunca tivesse estado lá.Porqueo Artur de Sá e Meneses esteve lá.Não apenas esteve lá....Vou dizer antes o Artur de Sá e Meneses: o Artur de Sá e Meneses ele foi a primeiravez em agosto de 1700 e ficou até julho de 1701, nas minas.Tentando colocar ordem nas coisas, mas na verdade assim né, se aliou com os grandesmineradores, estabeleceu uma finta.Uma finta (virou de futebol, né), uma finta é uma coisa que tu pagava como se fosse assimum imposto prévio, né, ó, provavelmente nós vamos conseguir tanto ouro, né, a gentejá paga antes a finta, né, e aí não paga mais nada, não tem mais fiscalização.E claro que os caras negociaram essa finta, assim, e além de tudo eles driblavam a finta.16:19Entendeu!?16:20Drible e finta viraram dois jargões do futebol, né, o cara que dribla a finta, né, é por16:26isso que o futebol arte brasileiro, até ele, pelo menos nas suas origens etimológicas,16:32é corrupto.Aliás, o futebol brasileiro bem corrupto mesmo, como tu sabe, basta ver a cor da camisetaque os caras andam por aí.Bom, depois ele esteve nas minas de novo, o Artur de Sá e Meneses, de setembro de 1701e voltou pro RJ no dia 12 de julho de 1702.E quando ele voltou, ele voltou com quarenta arrobas de ouro!Quarenta arrobas de ouro!Vai calcular quanto é que é.
Tem um livro maravilhoso da Laura de Mello e Souza, "Os Desclassificados do Ouro", quemostra o quanto o ouro gerou de pobreza, de miséria, de morte, né.Inclusive esse caminho que eu te falei, ali de Paraty, o caminho velho...Os escravos desembarcaram antes em Paraty, era o caminho também primordial pra entradados escravos nas minas, porque em março de 1709, o rei Dom João V enfim "franqueou"aos paulistas o direito de trazer escravos da África, né, escravizados lá da África.Que antes era de 200 escravos por ano, não podia entrar mais de 200 escravos por anoem SP, trazidos por paulistas.E os caras disseram assim "mas pelo amor de Deus!200 escravos não dá nem pra uma semana!", né.E também teve uma lei que se você deixasse os escravos, os chamados "escravos do açúcar",ou "escravos da mandioca", saírem do engenho ou das plantações de mandioca e irem prasminas, cê tinha que pagar uma taxa pra Coroa, bem grande, porque os caras disseram "não,elas tem que continuar plantando o açúcar, colhendo o açúcar, fazendo o açúcar, quetambém é uma das fontes de renda da Coroa, e plantando mandioca que é o que alimentaeles mesmos e todo mundo e paparará".Então não podia, né, tinha que vir novos escravos.
Eu ia, já tô aqui em 20 minutos e não vou mais falar, do livro do Antonil, né, sóque ele não chama Antonil, né.Um jesuíta italiano que veio pro Brasil cujo nome era Antonio Andreoni, escreveu um livrosobre o pseudônimo de André Antonil.Esse livro maravilhoso chamado "Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas".O Brasil tem muita droga, né, ele falava das drogas do Brasil... as drogas são os21:01produtos naturais da terra, não são as drogas que tu tá pensando com essa tua mente sórdida...21:05E suas minas.21:06E ele é o cara que melhor descreve as minas, embora nunca tenha visitado.21:16Mas ele coletou os depoimentos de todas as pessoas letradas, com algum discernimento,21:23que tivessem estado lá.21:24E ele disse o seguinte, que eram minas de aluvião que não requeriam "mente amestrada".21:30Hahaha!21:31Ele quis dizer o seguinte: qualquer burro cata.21:37É só catar, porque é ouro de aluvião.21:41Não requer uma "mente adestrada".21:43
Mas é o seguinte, isso indica também o quão mal essas minas foram exploradas, de que jeito21:50que elas foram malbaratadas, desbaratadas, entendeu, a exploração foi feita dum jeito21:55totalmente equivocado, só um século depois quando os ingleses...22:00Não bem um século, mas em 1845 que elas passam pras mãos da iniciativa privada, basicamente22:07de ingleses e de alguns alemães, que daí eles ficam "como é que os caras exploraram..?".22:13Ah, então, contei isso aqui nesse livro aqui, não adianta tu querer comprar porque não22:20tem à venda, a história da indústria no Brasil, e eu conto a história das minas de22:22ouro aqui também evidentemente, então aqui tá a Mina da Passagem, ó, olha que incrível22:27que é a Mina da Passagem, que é a mina de ouro mais profunda do mundo aberta à visitação22:32pública, né.22:33Tão aqui as ruínas da Mina da Passagem, né, que foi arrendada pelos ingleses, e também22:40um alemão que veio antes, Ludwig Eschwege, e dizem "como é que exploraram isso aqui22:47tão mal?".
Mas eu não vou contar mais essa história, só vou dizer que o livro do Antonil (que na verdade chamava Andreoni, né) foi censurado 11 dias depois de ter sido publicado, em 1711, porque eles davam o mapa da mina! Porque eles contavam tudo e deixavam claro a riqueza das minas, né, e como era só se abaixar e CATAR aquele ouro, de tanto ouro que havia nas Gerais, ouro branco, ouro preto, ouro de 23 QUILATES de qualidade! Era um ouro excelente, excelente! [O Brasil em busca do vil metal, 12.08.2020. Eduardo Bueno youtube.com/watch?v=OMpEqEaWNcE]
Que foi todo mal gasto, malbaratado, tudo mal feito, uma mortandade, um horror, um suplício.Vou terminar te dizendo que dá pra fazer mais um episódio sobre o ouro, porque eusei, tem ali os comentários, me mandam, minha equipe me manda, Guerra dos Emboabas, e euvou fazer um episódio sobre a Guerra dos Emboabas, que é a guerra..."Emboabas" quer dizer "estrangeiro", né, e os paulistas reagiram à chegada dos portuguesese de brasileiros vindos de outros rincões dizendo "nós que descobrimos essas minas,agora que a gente descobre vocês chegam aqui e querem explorar!?".
Posso falar mais do livro do Antonil, que foi proibido, e só foi redescoberto e republicado em 1898, né, que é um livro lindo que eu quero te recomendar, que descreve toda essa história das minas.
Então já falei num outro episódio: não tivemos Jack London, não tivemos filmes incríveis,24:13 [O Brasil em busca do vil metal, 12.08.2020. Eduardo Bueno youtube.com/watch?v=OMpEqEaWNcE]
Livro dos Transportes Seleção de Textos Organizada Data: 01/01/1970 Créditos/Fonte: Dinah Silveira de Queiroz Página 84
ID: 12355
Registros mencionados
• 12 de julho de 1702, quarta-feira Arrobas Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.