Em março de 1582, lançou âncoras na Guanabara uma frota espanhola, 23 navios, queseguia para o estreito de Magalhães. E então içou a bandeira negra: doença a bordo, mais de400 homens abalados, vômitos convulsos – alguns mortos. Pedro Sarmiento de Gamboa, quevinha nomeado pela coroa espanhola para fundar e governar uma colônia no extremo sul daAmérica, queria ajuda. “O governador Salvador Corrêa e os habitantes, todos muito pobres”,lembraria Sarmiento num relatório, “fizeram o que lhes era possível com tão pouco.” Osdoentes a princípio alojaram-se nas casas dos cariocas que os receberam, enquanto quemestava saudável pôs-se a construir “umas casas com folhas de palmeiras”, onde o velhoAnchieta trabalhou de sol a sol. Nunca a cidade tinha hospedado, e durante sete meses, tantagente, quanto mais doentes.Não foi incidente tranquilo. Dentro dos navios, os desentendimentos entre o futurogovernador Sarmiento e o almirante da frota, Diego Flores Valdez, foram se acirrando, e nolastro vários dos que viajavam preferiram desertar e fixar moradia em São Sebastião. Em seurelatório final, Sarmiento, descrito pelos contemporâneos como um homem generoso e íntegro,acusou Valdez de corrupção e má vontade. Mas, no Rio, o almirante deixou boas lembranças.Quando, após os cuidados, todos os homens tratados, o corcunda idoso no qual Anchieta setransformara pediu-lhe que soltasse um prisioneiro, Valdez respondeu, dirigindo-se ao infeliz:“Solte-se logo e faça como o padre Anchieta manda. Queira Deus que eu nunca deixe de fazero que ele me mandar. A primeira vez que o vi, nunca tinha sido apresentado a coisa maisabjeta e desprezível. Depois, nunca me senti tão pequeno em presença de ninguém, nem dealguma majestade, do que como me senti diante dele.”O Atlântico havia sido inclemente com o grupo de Valdez, um homem endurecido, típiconavegante do século XVI sobre quem o cronista do imperialismo britânico Rudyard Kiplingdiria um dia “quem não conhece o nobre Valdez não conhece a Espanha”.[113]O resultado da estada é que, das cabanas erguidas ao pé do Castelo, nasceu a Santa Casada Misericórdia. Ela já existia como instituição desde os tempos em que foram tratados osferidos da batalha de Uruçumirim, e o prédio daquele primeiro hospital chegou a serparcialmente construído no alto do morro. Mas, na década de 1580, já estava claro que acidade migrara para a várzea. A infraestrutura definitiva ganhou, ao seu lado, uma igrejaerguida em homenagem à Nossa Senhora do Bonsucesso.Justamente a igreja na qual encontraria seu primeiro altar a imagem da Virgem deCopacabana.[Páginas 79 e 80 do pdf]
• Pessoas (5): Bartholomeu Bueno I (27 anos); Salvador Correia de Sá, O Velho (38 anos); Pedro Ferreira Sarmento ; Diogo Flores Valdez (52 anos); Pedro Sarmiento de Gamboa (50 anos)
• Temas (1): Peru
• Cidades (2): Rio de Janeiro/RJ; São Vicente/SP
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.