A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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Outra incógnita que precisa ser elucidada quanto à Família Arzão diz respeito àLenda do Monte Tayó. Como foram muitos os membros dessa família que faiscaram nolitoral entre São Francisco e Desterro e, isso, ao longo de séculos, nunca ficou bem claroqual dos Arzão descobriu ouro no Monte Tayó e onde, comprovadamente, ficava essamina. Sabemos que uma mina de ouro muito explorada pelos Arzão ficava naproximidade de Barra Velha às margens do Rio Itapocu. Essas minas foramabandonadas em meados do século XVIII [1.750] por se encontrarem esgotadas.
(...) O ancião Antônio da Costa Flores, ao ser entrevistado por Pedro Ferreira, em 1907, sobre suas memórias da Itajaí do século XIX garantiu que Mathias Dias de Arzão levou garrafinhas de ouro ao governador João Vieira Tovar e Albuquerque [governador de Santa Catarina entre 14 de julho de 1817 e 20 de julho de 1821]. Antônio da Costa Flores está falando da Itajaí em que viveu a partir de 1840, portanto, estava muito próximo do tempo em que toda essa trama da Lenda do Monte Tayó se desenrola. [A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano. Página 34]
O Historiador Luiz Gualberto em correspondência ao historiador Carlos daCosta Pereira, em 1927, garante que "Matheus de Arzão (....) havia extrahido ouro do morro Tayó e ainda em 1829 a Camara Municipal da villa do Desterro, informava aoGoverno da provincia que no Sertão do Itajahy Matheus de Arzão tirara ouro de muitoboa qualidade, segundo o que se sabia tradicionalmente (...) A fama do ouro do morroTayó e as riquezas do valle do rio Itajahy, pela fertilidade de seu territorio, eramgeralmente admittidas." (35).
O problema é que temos um Matias Dias de Arzão e um Matheus Dias de Arzãono mesmo cenário, no mesmo tempo, explorando ouro e comunicando esse fato aDesterro. Seriam a mesma pessoa? Na comunicação da Câmara de Desterro aogovernador o verbo está no passado "tirara". Isso pode remeter Matheus ao mesmocenário do Matias de quem fala o sexagenário Antônio da Costa Flores [1817 a 1821].Já não se trata mais dos dois João Dias de Arzão, mas de Matias e Matheus. Também já,há muito, deixamos o século XVII de João Dias de Arzão transferindo a trama da Lendado Monte Tayó para o século XIX. Mudam-se os nomes, mudam-se as datas .... mas aLenda continua intacta.
De qualquer forma isso já foge à nossa questão principal que é estabelecer seJoão Dias de Arzão foi o primeiro homem branco a possuir terras às margens do RioItajaí e, portanto, estar capacitado a pleitear o título de fundador de Itajaí. Tudo indica,mas faltam provas consistentes, que efetivamente o primeiro João Dias de Arzão ficouno Icaray, em terras próximas da Vila de São Francisco, e, seus descendentes foramgradativamente faiscando no litoral entre Paranaguá e Desterro. Encontraram umaprimeira mina às margens do Rio Itapocú, onde permaneceram por longos anos atéexaurir por completo sua riqueza mineral, partindo, então, em direção ao Vale do Itajaí.
A chegada dos Arzão ao Vale do Itajaí, portanto, pode estar datada já no séculoseguinte à fundação de São Francisco do Sul. O mapa que indica a localização do MonteTayó é datado de 1776, e consiste no primeiro documento sobre a mina de ouro dosArzão no Vale do Itajaí. Nunca apareceu, por exemplo, a requisição de sesmaria queJoão Dias de Arzão supostamente esboçou em 1658. O que temos de concreto entãosobre os Arzão? Temos um mapa datado de 1796 delineando a sesmaria do segundoJoão Dias de Arzão na Barra do Rio pelo lado esquerdo; temos o pedido de concessãode sesmarias de Mathias Dias de Arzão na Barra do Rio pelo lado direito, em 1794. [Página 35]
OUTRA TESEPodemos também seguir a trilha aberta em 1711 pelo sargento-mor da Praça deSantos – Manoel Gonçalves de Aguiar - quando de sua excursão pelo litoral de SantaCatarina. Ele declarou em seu relatório que teve informações de que Maria Pedrosa, viúva de João Dias de Arzão [primeiro], havia se transferido, tempos atrás, com osfilhos (capitão Miguel Dias de Arzão, Antônio Dias de Arzão, João Dias de Arzão[segundo]), para as margens do Rio Itajaí. Também afirma que em 1711 já encontrara afamília novamente radicada em São Francisco do Sul.Mas, pesquisando no mapa genealógico da Família vamos encontrarinformações que evidenciam a permanência de alguns membros no Vale do Itajaí. Istoporque Antônio Dias de Arzão morreu em Itajaí em 1796 aos 90 anos de idade; JoãoDias de Arzão [O Moço] morreu em Itajaí em 1797; a filha de Miguel Dias de Arzão –Anna Rosa – morreu na Armação do Itapocoróia em 1807. Provas mais do quesuficientes para confirmar a presença da Família Arzão no Vale do Itajaí de 1700 emdiante.A questão a ser resolvida diz respeito à propriedade da terra e o ano que ela foiadquirida. A família veio explorar a sesmaria que suspostamente João Dias de Arzão[primeiro] teria requerido em 1658? É certo que ao longo do século a Família Arzão foicontemplada com concessões de diversas sesmarias no Vale do Itajaí, porqueencontramos relatórios e mapas de sesmarias contendo os nomes de João Dias de Arzão,Mathias Dias de Arzão, Antônio Dias de Arzão etc. Um Antônio Dias de Arzão,inclusive, é signatário do requerimento dos moradores locais solicitando ao bispo doRio de Janeiro criar o curato de Itajaí em 1824. Sabemos que todos os signatários eramproprietários de terras entre os rios Camboriú e Itapocú. [Páginas 35 e 36]
Informação 1: "Eu era, em 1820, governador das colônias da província de Santa Catarina, sob o título de inspetor geral, quando recebi do ministro Vila Nova, ordem de fazer tôdas as tentativas necessárias para redescobrir o maravilhoso monte Taió. Essa ordem vinha acompanhada de uma cópia da correspondência que havia sido trocada outrora a êsse respeito e que não oferecia nenhuma pista a seguir.
Convencido da importância dessa missão, desenvolvi todos os esforços para saber se ainda existia algum descendente do desgraçado Aragão e cheguei a descobrir os netos dessa vítima, os quais sabiam, por tê-lo ouvido dizer de seus pais, qual fôra a sorte de seu avô e que, presumívelmente êle havia levado consigo para Lisboa, o roteiro, o mapa do traçado que êle fizera para chegar ao monte Taió, plano êsse que depois de sua morte se disse fôraachado entre seus despojos, na prisão de Lisboa (...) Em seguida, eu procurei colherinformações entre os velhos dos logares os mais distantes das povoações brasileiras e asmais próximas das hordas de selvagens. Não consegui nada mais do que eu já conhecia.Sómente nas margens do rio Itajaí eu encontrei um homem de 120 anos, que tinhaconhecido Aragão e ao qual êle falara depois da descoberta das lâminas de prata. Êle meassegurou que tôdas as vêzes que Aragão partia para as suas excursões passava por suacasa e que, por essa razão, o monte Taió não podia estar muito distante do rio Itajaí e eramesmo, segundo supunha, banhado por suas águas (...) Eu continuei as minhasindagações sem, entretanto, alimentar grandes esperanças de encontrar o Taió, porquenuma enorme extensão de florestas virgens e de montanhas mais ou menos iguais à queAragão descobrira, isso era dificílimo; e depois, em virtude da revolução portuguêsa queteve lugar no Rio de Janeiro, a 26 de fevereiro de 1821, eu julguei de meu dever voltaráquela capital." [A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano. Página 154]
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.