'“Heroísmos, Sedições e Heresias: A construção do ufanismo e do ressentimento nos sertões da capitania de São Paulo (1768-1774)”, Michael Kobelinski - 01/01/2008 Wildcard SSL Certificates


“Heroísmos, Sedições e Heresias: A construção do ufanismo e do ressentimento nos sertões da capitania de São Paulo (1768-1774)”, Michael Kobelinski
    2008
    Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

  
  


Ao longo do documento Theotônio José Juzarte ressalta a severidade dos “trabalhos,fomes, necessidades, perigos e mortandade”. A concepção de espacialidade e a cautela comoforma de sobrevivência permitiu o reconhecimento dos sertões do Iguatemi; a grandeza dosrios, os perigos e as populações ameríndias. Ele deu atenção especial à toponímia indígena e àzoografia tropical na medida em que se tornavam vitais à sobrevivência da expedição, ou porseu revés, quando tornava-se ameaçadora e colocava a existência humana em perigo.Mas o ponto central a ser identificado em Theotônio José Juzarte manifesta-se nacondição que se fez presente no transcurso dos acontecimentos: o comportamento exasperadoe estressante a que foi submetido. A condição tornava-se mais aguda à medida em que aexpedição avançava e se estabelecia “definitivamente” no “Iguatemi”. Em vários momentoso autor do diário manifesta essa condição psicológica, como, por exemplo, o fato de reunirtodas as pessoas pelas “impertinências, trabalhos e incômodos”. Indício de que, mesmo antesde se começar a expedição, a situação não era desejada e, portanto, era contra a sua vontadeem razão das imposições. Tanto que ao longo do texto raramente refere-se ao Morgado deMateus, e assume que tinha consciência de que havia gente sem escrúpulos entre oscolonizadores.Temos que reconhecer que os recrutamentos forçados, gastos pessoais com expediçõescolonizadoras ou militares, conspiração, deserção, possíveis enfrentamentos com gruposindígenas e espanhóis, isso sem falar da carestia alimentar e do desconforto do sertão, eramsituações extremas para todos. Em tais circunstâncias, as emanações sociais comuns naconstrução das sensibilidades para a paisagem e para a natureza americana foram constituídaspor motivações externas - pela conjuntura histórica -, motivações internas, psíquicas ouorgânicas, nostálgicas e, finalmente, por uma “memória coletiva” estruturada a partir dossentidos e valores atribuídos ao entorno e a suas próprias vidas. 68As incertezas estimularam estados de atenção, como o de vigília, os quais provocaramquadros melancólicos. 69 Aquelas pessoas não estavam acostumadas a pernoitar no sertão, emuito menos compartilhar comportamentos da esfera privada com “desconhecidos” e, dessemodo, estavam mais suscetíveis a fragilizações psicológicas e orgânicas: “mais uma vez, violou-se o caráter privado de atos íntimos, os doentes tendo de fazer suas necessidadescorporais onde fosse possível, uns tentando se esconder nos matos, outros desfalecidos e sempoder se movimentar, tendo de ser carregados em redes ou removidos pelos sãos”. 70No primeiro trecho da viagem, nas proximidades do rio Sorocaba, afluente do Tietê,no dia quinze de abril de 1769, Theotônio José Juzarte afirma:soube que um homem se achava esmorecido, e que não comia havia três dias, o qualse achava escondido fora da comunicação das mais pessoas, o qual fiz conduzir, econsolando-o e fortificando-o com vinho, e sustento, foi tomando a si, e me disseque por acanhado, e melancólico esperava ocasião de se deixar ficar, e morrernaqueles matos, ao qual daí em diante me foi preciso pôr-lhe vigia. 71Outro sinal desse estado depressivo surgiu no dia dezessete de abril de 1769, naprimeira fase da viagem, durante o encontro com Dom Antônio Barbosa, “diretor dapovoação”, na barra do rio Piracicaba, quando um dos soldados pagos embrenhou-se na matae se perdeu. Encontraram-no “trepado sobre uma árvore sem saber em que parte estava, edisposto a ficar a morrer naquele sertão” devido ao fato de fugir de uma vara de porcos domato e de uma “onça de extraordinária grandeza”. 72 Notadamente as motivações para essesestados de alteração eram mais profundas.Na navegação pelos rios Tietê, Paraná e Iguatemi não se reconheceram apenas osproblemas advindos dos perigos fluviais. A percepção da fauna colonial também remete aessas situações psicológicas de desconforto, uma vez que elas são freqüentes durante ajornada e, ao mesmo tempo, requeriam atenção dobrada. As serpentes do Velho Testamentose materializavam por todo lugar: “são estas cobras tão venenosas, que mordendo emqualquer pessoa instantâneamente fica sem vista, e entra a exalar sangue pelos olhos, bôca, enariz, e pelas unhas, e o mais que dura vivo são vinte, e quatro horas”. 73Em parte da narrativa Juzarte utiliza-se de metáforas para associar diversoscomportamentos entre diferentes representantes do mundo animal: as lontras se parecemcomo os cães; os tuiuiús se assemelham, em tamanho, aos cavalos; as emas eram mais velozes [Páginas 118 e 119]

legasse sinão a memoria de mais um intrépido paulista, que se sacrificara á insaciávelambição dos mandões da época”. 106As ações de Afonso Botelho, porém, diante das notícias da fundação da Vila Real doRio Mourão, não tinham apenas a finalidade de remediar a falta de edificações, “restaurar”ruínas antigas ou promover “desatinadas” formas de deslocamentos populacionais em áreasisoladas, e desvios de recursos régios como viam seus opositores. Também visavam evitarfrustrações no interior da corporação militar e assegurar possessões. Assim, não teria sentidoo Tenente Jeremias de Lemos e João Crisóstomo Pais deslocarem-se para lá, efetuandopagamentos e instruindo o Capitão Francisco Lopes a socorrer a Praça Nossa Senhora dosPrazeres dos ataques de forças espanholas, pois as tensões internas e externas só se“resolveriam”, parcialmente, após a “deposição” tumultuada do Morgado de Mateus.

5.4 Descoberta e enaltecimento

O significado do termo invasão dos sertões toma forma com o reconhecimento doscaminhos que interligavam a orla marítima, o interior dos campos de Tibagi e a Praça deIguatemi ao núcleo da Província de São Paulo, porém não se tratava apenas dereconhecimento prévio, mas de um conjunto de experiências problemáticas relacionadas auma seriação de incursões militares desencontradas onde prevalecia, em primeiro lugar,questões de ordem pessoal.

O diário do Tenente Bruno da Costa Filgueiras, apesar de breve, acrescentainformações sobre as sensibilidades aqui priorizadas. Essa expedição que entrava pelo Porto Nossa Senhora da Conceição de Caiacanga, no rio Grande do Registro em vinte e oito de agosto de 1769, tinha como objetivo “procurar caminho ou por terra, ou por água, por onde se possa chegar com mais comodidade até a barra, que êste rio Grande do Registro faz no Paraná”. 107

Pelo que foi levantado na documentação, a experiência de Bruno da Costa Filgueiras nos sertões foi significativa, pois participara como cabo na expedição de Domingos Lopes Cascais, em dezembro de 1768. Contudo, a descoberta do sertão de Guarapuava também envolvia estratégias bem definidas para suprir as necessidades de abastecimento das tropas.

Mesmo porque as explorações não se realizaram exclusivamente sobre o meio aquático; os“soldados” enfrentaram consideráveis percursos em mata fechada, além das irregularidades do relevo e da precariedade alimentar. Bruno da Costa Filgueiras seguia com um agrupamento de vinte e cinco homens, entre eles mateiros e caçadores da vila de Curitiba (Quadro 4). A navegação em canoas por trinta1 léguas, a organização de um acampamento base na foz do rio Petinga, marchando-se “de dia, e de noute”, demonstram o estado de conhecimento dos interiores coloniais e a urgência de ações pontuais. Entre elas, a principal era procurar a partir de rio Verde, os “ignotos campos de Gorapuava”.

O que é significante neste diário são as supostas imaginações de Bruno da Costa Filgueiras, nas quais se registravam os sons de “onças e tigres, que era gado que andava em campo”. Além do mais, a expedição “acreditou” que estava “abaixo dos saltos grandes do mesmo rio”, nos Campos de Putrebu, na Província do Paraguai e Missões. Aliás, isso pode ter sido algo proposital, uma vez que poderia seguir caminho mais interessante em seu julgamento, e lhe possibilitaria êxito em sua nova exploração. É menos provável que tenha ocorrido um erro estratégico, pois a expedição empreendeu caminho por terra, e depois de explorar o sertão por quarenta dias, acabou retornando ao Porto Nossa Senhora da Victória, no rio Grande do Registro.

A documentação está impregnada do rigor disciplinar do Antigo Regime portuguêsestabelecido por Afonso Botelho na capitania de São Paulo, mas mesmo assim, não há comoolhar para estes documentos sem perceber um campo de “aparição” das sensibilidades emoposição. Nessa austeridade, considerava-se que Bruno da Costa não cumprira fielmente suamissão e “com três dias de volta encontrou a Bernardino da Costa, e José da Costa, seusirmãos, e outros mais, que iam socorrê-lo por ter entrado na quinta expedição, que se segue, ese uniu a esta, e continuou debaixo da ordem do comandante dela, o capitão Antonio daSilveira Peixoto”. 108 Nesse encontro, o Capitão em exercício, Silveira Peixoto considerou quea missão de Bruno da Costa não fora suficiente, e deste modo o encarcerou e o remeteu àParanaguá. [Páginas 173 e 174]



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EMERSON


01/01/2008
ANO:82
  


Sobre o Brasilbook.com.br

Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.