'“O Sistema Produtor do Alto Tietê: Um Estudo Toponímico”. Edelsvitha Partel Murillo - 01/01/2008 Wildcard SSL Certificates
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“O Sistema Produtor do Alto Tietê: Um Estudo Toponímico”. Edelsvitha Partel Murillo
    2008
    Atualizado em 31/10/2025 09:40:18

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penetração, prevalecia o domínio do desconhecido, sendo ponto de passagem de uma ou outrabandeira que se aventurasse em direção ao Paraíba.

Mogi, naquele final dos quinhentos, estava livre da presença de tribos hostis àpopulação da Vila de São Paulo de Piratininga. A região representava a fronteira de segurançacircunvizinha de São Paulo. Para além, na direção que começava a ser conhecida como Norte,a partir do cotovelo do Paraíba, e pelo interior do vale desse rio, ficava a região ocupada porremanescentes dos terríveis tupiniquins.

Pesquisas efetuadas por frei Thimoteo Van den Broeck31 localiza os índios agressivosde “Bongi” na região de “Tapyypema”, hoje bairro de Itapema em Guararema, na região dorio Paraíba. Demonstra que os indígenas fixados no lado de Mogi já viviam em paz com osPortugueses no final do século XVI.
BR>A Ata da Câmara paulista de 05 de dezembro de 1593 registra o testemunho dos egressos da bandeirade Domingos Luis Grou e Antonio de Macedo, descrevendo o massacre que sofreram naregião de “Boigy”:

“(...) para que elles declarasem (...) o que pasava aserca do gentio de bongy que oshavia salteado e desbaratado na viagem que trazião desta entrada de Antonio deMacedo e de Domingos Luiz Grou, em cuja companhia elles todos vinhão para estacapitania (...) disserão que hé verdade que o gentio de mongi, pelo rio abaixo deAnhambi, junto de outro rio de Jaguari, esperarão a toda a gente que vinha, branca eíndios cristãos nossos amiguos, e topiñaes (...): no dito rio forão dando nelles, matandoe desbaratando a huns e a outros......”

Neste excerto, podemos perceber que o ataque se deu pelo rio abaixo do Anhambi, juntode outro rio de nome Jaguari. Segundo análise feita por Campos e Silveira e compartilhadapor Carvalho Franco32, o Tietê não possui nenhum afluente com o nome de Jaguari e, tambémnão existe um rio com este nome na região de Mogi. Por outro lado, verificam que o texto falade um rio abaixo do Anhambi. Se o ponto de referência é Mogi, os autores pressupõem que olocal estaria mais além, junto de outro rio que consta da documentação da época, um afluenteda margem esquerda do Paraíba que deságua na altura da atual São José dos Campos, e queera chamado de Jaguari. Concluem que a destruição da bandeira não se deu na região de Mogie, sim, no vale do Paraíba, que, segundo documentação quinhentista, era habitada pelostupiniquins, inimigo dos portugueses. Com isto, reafirmam a tese de que a região do AltoTietê com a de Mogi incluída, já no final dos quinhentos, estava livre do perigo indígena epronta para ser povoada e para servir de caminho de penetração dos paulistas.

Um dos primeiros documentos que cita a localidade de Mogi é “o traslado de umacarta de dadas de terras de sesmaria de Bras de Pinha e Gaspar de Pinha, seu filho, em otermo de Boigimirim”33, em dezembro de 1609. Este documento faz menção à existência deum arraial de Jerônimo Leitão:

... a saber, meia légua da banda do campo, nas cabeceiras das dadas de Francisco... eoutra meia partindo da Piaçaba, donde... arraial de Jerônimo Leitão... correndo para a bandada serra do... em quadra no que receberá mercê”.

Sabe-se que os bandeirantes em suas entradas formavam pontos estratégicos deabastecimento, defesa e ataque, que os documentos mencionam como arraial. Diz Carvalho Franco 34 “que Jerônimo Leitão rematou, assim, definitivamente no território da Capitania a segurança das vias capitais da penetração paulista no século que espontava: o Tietê e o Paraíba”.
Sabe-se que o Capitão Jerônimo Leitão foi substituído no cargo por Jorge Correa,em 30 de março de 1592, portanto, antes dessa data, pressupõe-se que já existisse o arraial deJerônimo Leitão.

Sobre a ocupação da região de Mogi, no final dos quinhentos e início dos seiscentos, osregistros da bandeira de André de Leão, de 1601, feitos pelo holandês Guilherme Jose tenGlimmer, participante desta bandeira, diz o seguinte:

... e assim gastos nove meses nesta expedição, voltamos primeiro a Mogomimin,depois à cidade de São Paulo.

Para Campos e Silveira 35 Mogomimin, era Mogi Mirim, portanto, vindo do vale doParaíba antes de chegar a São Paulo, era o único ponto de referência que existia. Deduz-seque em 1601 já existia um núcleo de povoamento em Mogi.

Um dos mais importantes documentos do início da história de Mogi, o foral de 1611,informa que os moradores apresentaram petição ao Governador Geral, dom Luiz de Souza,para “[....] que Sua Senhoria lhe deçe Licenssa para fazer Villa e Levantar Pelourinho, poiserão bastantes em numero para poder fazer, havendo mais de des annos que a tem povoada[....]”, pode-se concluir, portanto, que o início do povoamento tenha se dado em 1601, dezanos antes de 1611, data oficial da fundação de Mogi, confirmando a tese de povoamento noinício dos seiscentos.

Como já afirmamos, Gaspar Vaz foi o “capitão da feitura” da estrada que, de São Paulopara o Paraíba, passava por Mogi Mirim, o “novo caminho do mar”.

Foi o governador geral, dom Francisco de Souza, quem empreitou com Gaspar VazGuedes, a abertura de uma estrada que unisse a Villa de São Paulo ao Rio de Janeiro, com um35 In: Boigy, Cadernos da Divisão do Arquivo Histórico e Pedagógico Municipal, Prefeitura Municipal deMogi das Cruzes 1988, n. 1, Ano I.32 In: Boigy, Cadernos da Divisão do Arquivo Histórico e Pedagógico Municipal. Prefeitura Municipal deMogi das Cruzes. 1988, n.1, Ano I, p. 6.33 In: Boigy, Cadernos da Divisão do Arquivo Histórico e Pedagógico Municipal. 1988, n.1, nº. 1 p. 7.34 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo, São Paulo, 1940, p. 30. [p. 86]

Biritiba Mirim é nome de rio, temos, então, que o termo específico é aplicado a outrosacidentes, processo denominado por Dick (2001) de translação toponímica: “há translaçãotoponímica sempre que ocorrer o deslocamento do designativo de um acidente para outro.Esse esquema pode ser circular, seja do rio para o aglomerado nascente em suas margens, oudeste para aquele, o que é mais raro. Em toponímia, os nomes dos cursos d’água, dasmontanhas, das serras, são os mais primitivos, por isso, os mais comumente usados noprocesso de translação”.5.4. SUZANOA formação da cidade de Suzano está intimamente ligada à construção da estrada deferro que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, passando por Mogi das Cruzes. O próprio nome‘Suzano’, adotado em 1907, ainda não de forma oficial, foi uma homenagem ao engenheiro daferrovia que, a pedido da população local, havia construído uma nova estação toda emalvenaria. O nome deste engenheiro, Joaquim Augusto Suzano Brandão, foi primeiramenteadotado como nome da estação ferroviária e, depois, passou a ser o denominativo da vila.Também a história da cidade de Suzano está inserida à macro-região de Mogi dasCruzes como hipônimo historiográfico deste município.

A intersecção de fatos históricos entre os dois municípios, nos primórdios da ocupação da região, é facilmente explicitada ao descrevermos o primeiro documento referente ao território onde hoje está situada a cidade de Suzano, esta localização é marcada pelo rio ‘Cuayao’ (Guaió) e o ‘rio grande Anhemby’ (Tietê). É uma concessão de sesmaria a um certo “Rodrigues”, em 10 de dezembro de 1609:

Campos do Itacurutiba no caminho que fez Gaspar Vaz que vae para Boigi Mirim asaber partindo da barra dum rio que se chama Cuayao por elle arriba até da em outrono que se chama..... dali dará volta a demarcação pelas faldas do outeiro da banda dosudoeste e correrá avante até dar no rio grande Anhemby e por o rio grande até dar digo até tornar aonde começou a partir assim mas meia ...com dois capões que estãode fronte da dita dada a saber um capão que se chama de Yytucurubitiba e outro .... assupeva.”43

Em documentos referentes à vila de Mogi das Cruzes, no século XVII, encontram-secitações de uma “Estrada Real do Guaió”, localizada, muito provavelmente, entre os riosGuaió e Taiassupeba Mirim, por onde passariam todos que voltassem do litoral ou de SãoPaulo de Piratininga para Mogi. Nessa região, foram encontrados os primeiros veios de ouro da Capitania. Sabemos que a cidade de Suzano está localizada entre os rios Guaió eTaiaçupeba Mirim. Já no final do século XVII, próximo à cabeceira do rio Taiassupeba Mirim, foi seformando um pequeno aglomerado de moradias em volta de uma paragem de tropeiros ebandeirantes, esse pequeno povoado era conhecido por Taiassupeba. Ali, em 1720, o padreAntonio de Souza e Oliveira ergue a primeira capela em louvor a Nossa Senhora da Piedade.Na segunda metade do século XVIII, o denominativo do lugarejo muda de Taiassupebapara Baruel, sobrenome do mais importante morador do local, Antonio Francisco Baruel.Cerca de um século depois, a família desse antropônimo terá desaparecido completamente daregião, mas o denominativo de lugar permanece até hoje como designativo de bairro domunicípio.A chegada da estrada ferroviária muda completamente o perfil da localidade, antes umsimples vilarejo, apenas local de passagem, passa, a partir da implantação da ferrovia, a terum crescimento bastante significativo.O trecho da ferrovia entre São Paulo e Mogi das Cruzes é inaugurado em 6 denovembro de 1837, com uma primeira parada em Guaianases. Uma segunda parada para o [Páginas 98 e 99]

avançaram em direção ao vale do Paraíba, não necessariamente pelo rio, mas apenas seguindoseu rumo. Este curso coincide com um trecho da antiga Estrada de Ferro Central do Brasilque, na época de seu apogeu, trouxe tanto progresso para a região. Mogi das Cruzes,localizada às margens do rio Tietê, fundada pouco depois de São Paulo de Piratininga, abriucaminho para o interior na busca das riquezas minerais. Os rios do Tietê muito contribuírampara este desbravamento.A documentação do século XVI e XVII, referente à nossa área de pesquisa, se apóia nosnomes de acidentes físicos, principalmente no nome de rios para demarcar territórios. Ascartas de concessão de sesmarias, as cartas de datas de chão, as atas de câmara, as doações, aspartilhas, as heranças, em toda esta documentação, o referente de lugar normalmente é um rioou uma serra. O contato com essa documentação nos permite refazer o percurso dos primeirospovoadores, graças a esses denominativos de lugar ‘imutáveis’:“(......) para que elles declarasem (....) o que pasava aserqua do gentio do bongy quehos havia salteado e desbaratado na viagem que trazião desta entrada de Antonio deMasedo e de Domingos Luiz Grou, em cuja companhia elles todos vinhão para estacapitania (...) diserão que hé verdade que o gentio de mongi, pelo rio abaixo doAnhambi, junto de outro rio de Jaguari, esperarão a toda a gente que vinha, branca eíndios cristãos nossos amigos, e topinães (...) no dito rio forão dando nelles, matando edesbaratando a huns e outros ....”46

Historiadores como Campos e Silveira, através deste excerto de ata de câmara de05.12.1593, afirmam, baseados na descrição dos rios, que a localização real do massacre da bandeira de Domingos Luiz Grou e Antonio de Macedo, em 1590, não foi a região de Mogi das Cruzes, contrariando alguns estudos, mas, afirmam que o rio Jaguaribe é afluente do Paraíba, portanto, o massacre desta bandeira só poderia ter acontecido na região do Paraíba, onde viviam os tupiniquins, inimigos dos portugueses.

“Campos do Itacurubitiba no caminho que fez Gaspar Vaz que vae para Boigi Mirim asaber partindo da barra dum rio que se chama Guayao por elle arriba até da-em outro noque se chama.....dali dará volta a demarcação pelas faldas do outeiro banda sudoeste ecorrerá avante até dar no rio grande Anhemby e por o rio grande até dar digo até tornaraonde começou a partir e assim mas meia ... com dois capões que estão de fronte da ditadada a saber um capão que se chama de Yytucurubitiba e outro...Assupeva...”

Apresentamos parte do texto de uma concessão de sesmaria a um certo “Rodrigues” em 10 de dezembro de 1609. Esse documento descreve área compreendida no atual território de Suzano, é o rio Guaió que nos orienta nesta localização. “... e começará a partir pelo caminho... para o dito rio da Paraíba...”

Esse pequeno texto é parte da documentação de uma doação de sesmaria de 6 de março de 1610. A interpretação historiográfica fica mais clara graças ao denominativo de rio. “... outra banda do rio Anhambi, por caminho de Par(aiba). Também parte de um documento de doação de sesmaria no ano de 1611”. “... uns chãos que estão na rua nova de Nossa Senhora da Conseisão do caminho que vai pera a outra banda do rio Ajembi”.

Carta de datas de 25 de abril de 1626. “... capõens que estão entre dois rios a saber Gerebatiba e Bohy.” Trecho encontrado nos autos do inventário do espólio de Martim Rodrigues, do início do século XVII. Poderíamos continuar esse inventário descrevendo, até com detalhes, a região no início da colonização. O caminho que podemos percorrer através dos nomes de rios, ao longo da [Páginas 107 e 108]





OII!

Registros mencionados

22 de janeiro de 1502, quarta-feiraID: 9907
André Gonçalves e Américo Vespúcio descobrem o porto, a que deram o...
Atualizado em 15/07/2025 05:10:06
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5 de dezembro de 1593, domingoID: 20496
Depoimento sobre o ataque a Antonio de Macedo e Domingos Luis Grou ...
Atualizado em 30/10/2025 14:47:31
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dezembro de 1609ID: 32086
Bras de Pinha - Serra Piaçaba (Mogi) - 5,400*
Atualizado em 31/10/2025 02:01:17
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10 de dezembro de 1609, quinta-feiraID: 26158
Terras
Atualizado em 02/10/2025 11:23:45
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6 de março de 1610, sábadoID: 29110
Doação de sesmaria
Atualizado em 25/02/2025 04:39:46
•  Fontes (1)
  
  


25 de abril de 1626, sábadoID: 29111
Carta de datas
Atualizado em 25/02/2025 04:39:46
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1633ID: 24154
Demarcação de terras por Bras Cubas
Atualizado em 25/02/2025 04:45:52
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