Massacre em Guairá ou a Fúria Bandeirante, consultado em terrabrasileira.com.br
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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O autor deste texto, padre Ruiz de Montoya, foi o superior das reduções do Guairá de 1620 a 1638 e assistiu aos ataques dos paulistas. Revoltado com a violência, viajou até Madri, onde, na corte, apresentou a denúncia. O trecho abaixo é parte deste documento."No dia de São Francisco Xavier do ano de 1636, quando se estava celebrando a festa com missa e sermão, 140 brancos do Brasil, acompanhados de 150 tupis, entraram naquela missão. Vinham todos otimamente armados com escopeta e se achavam vestidos com gibões, que são forrados de algodão, pelo que o soldado está protegido dos pés à cabeça e peleja em segurança contra as flechas.Foi assim, ao som de tambor, bandeira desfraldada e em ordem militar, que os paulistas entraram no povoado, já disparando armas e, sem aguardarem negociação, atacando a igreja com a detonação de seus mosquetes.Pelejaram todos durante seis horas, ou seja, das oito da manhã até as duas da tarde. Feriram os paulistas a um dos padres com um balaço na cabeça. Nossos índios cristãos lutavam com esforço, esperando também no socorro de gente, que se aguardava. As mulheres e os meninos, de sua parte, pediam socorro de joelhos a Deus, mergulhados em lágrimas.Vista pelos inimigos a valentia dos sitiados e considerando serem muitos os seus próprios mortos, pretenderam abrir uma passagem por meio de uns paus do forte. Percebeu-o uma índia que, vestindo-se de homem, partiu com uma lança contra um tupi, que já estava abrindo a passagem aos demais, e, atravessando-o, deixou-o morto ali, bem como impedindo a entrada aos outros.Resolveram os inimigos queimar a igreja... Confesso a este respeito que os ouvi dizerem que eram cristãos, pois nessa hora estavam com enormes rosários. Não há dúvida de que tenham fé em Deus, mas são do diabo as suas obras. Por três vezes atiraram flechas inflamadas, mas, embora com dificuldade, conseguiu-se apagar o fogo. O fogo fez, na quarta tentativa, a presa irremediável na palha da igreja.Abriram então um portãozinho, pelo qual saíram os índios, assim como faz o rebanho de ovelhas, indo do cercado ao pasto. Com isso acudiram ao mesmo portãozinho aqueles tigres ferozes e começaram com espadas, facões e alfanjes a derrubar cabeças, truncar braços, descarnar pernas e atravessar corpos, matando com a maior brutalidade já vista no mundo. Provavam eles o fio de aço de suas espadas em cortarem os meninos em duas partes, em lhes abrirem as cabeças e despedaçarem os seus membros fracos."(Montoya, A. Ruiz de. Conquista espiritual feita pelos padres da Companhia de Jesus nas províncias do Paraguai. Porto Alegre, Martins Editora, 1985. p. 244-5)Furacão sobre ItatimPouco antes de 1640, a Espanha concordou em armar os indígenas das reduções para barrar a expansão paulista. Mas a medida prejudicava também os encomenderos [grandes proprietários rurais] paraguaios, que exploravam o trabalho forçado dos índios. Em 1640, frei Bernardino de Cárdenas assumiu o cargo de bispo da diocese do Paraguai, despertando a oposição da Companhia de Jesus. Cárdenas era francamente favorável aos encomenderos e terminou sendo expulso de Assunção, em 1644, pelos jesuítas, aliados ao governador Gregório de Hinestrosa. Três anos depois retornou ao cargo e passou a hostilizar seus inimigos. Enquanto isso, Raposo Tavares preparava-se para invadir a província do Itatim, coroando as campanhas de destruição das missões. A 8 de setembro de 1647, os paulistas, sob as ordens do experimentado sertanista, caíram sobre Nossa Senhora de Tare. Os jesuítas em fuga pediram reforços a Assunção, obtendo o silêncio como resposta. Pior ainda, frei Bernardino assumiu o poder após a morte do governador Diego Escobar Osório e nada fez para combater os bandeirantes; pelo contrário, precipitou a expulsão dos jesuítas de Assunção e o confisco de seus bens. Os paulistas assenhorearam-se então da província de Itatim. E quando se retiraram de lá deixaram apenas ruínas que foram ocupadas pelos indígenas Guaicuru e pelas ervas daninhas.(Saga. A grande História do Brasil. São Paulo, Abril Cultural, 1981. v.2, p. 65)Fonte: Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.