Roda dos Expostos: 200 anos de “assistência” à infância pobre e dita abandonada no Brasil. Instituto Bixiga Pesquisa e Formação, institutobixiga.com.br 0 13/08/2021
Roda dos Expostos: 200 anos de “assistência” à infância pobre e dita abandonada no Brasil. Instituto Bixiga Pesquisa e Formação, institutobixiga.com.br
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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A Roda de Expostos ou Roda dos Enjeitados foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. Criada em Portugal para acolher crianças “abandonadas” em todas as vilas e cidades do reino, foi transferida para o Brasil no Período Colonial, perpassou e multiplicou-se no Período Imperial e conseguiu manter-se durante o Período Republicano até ser extinta definitivamente somente na década de 1950.
O nome Roda dos Expostos provém do dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era instalado no muro ou na janela da instituição. No lado de fora do muro, o expositor depositava a criança que enjeitava na abertura externa do dispositivo e ao girar a roda a criança já estava do lado interno da instituição. Para avisar a vigilante ou rodeira que a criança acabava de ser abandonada, puxava-se uma cordinha com uma sineta e retirava-se do local rapidamente, garantindo assim o anonimato do expositor. (Cf. Maria Luiza Marcilio)
Depois de “abandonadas” na Roda dos Expostos, todas crianças eram registradas no livro de “Matrícula dos Expostos” e, posteriormente, no livro de “Vencimentos de Amas” quando a criança era encaminhada aos cuidados da “Ama de Leite” ou “Ama Seca”, mulheres empregadas para alimentar e criar as crianças recebidas na roda até que fossem encaminhadas à adoção, ao trabalho ou ao acolhimento institutcional.
De um modo geral, convencionou-se que ao Estado caberia a administração dos negócios públicos, enquanto a assistência pública era direcionada às Confrarias ou Associações Religiosas ou Leigas. Desde então, as Câmaras Municipais realizavam convênios transferindo os serviços de assistências à criança exposta para instituições caritativas, em especial à Santa Casa de Misericórdia e às Casas Pias. Inclusive existia até um imposto especial para custear os convênios denominado Finta dos Expostos.
A primeira Roda dos Expostos do Brasil foi instituída em 1734 na Santa Casa de Misericórdia da Bahia, em Salvador. Fundada em 1549, a Santa Casa da Bahia iniciou os trabalhos de assistência em uma construção rustica de taipa de pilão e cobertura de palha, situada onde atualmente está localizado o Museu da Misericórdia.
Nesse período, a Salvador possuía mais de 100 mil habitantes e era grande o número de crianças “abandonadas” nas vias públicas, na porta do hospital da Misericórdia, e algumas até encontradas devoradas pelos cães e porcos nas ruas da cidade.
A segunda Roda dos Expostos brasileira foi instituída em 1738 na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Fundada em meados do século XVI, a Santa Casa do Rio de Janeiro começou a prestar assistência em um abrigo precário coberto de sapé na orla marítima do Morro do Castelo, dando origem possivelmente ao primeiro hospital da cidade.
Com o expressivo crescimento populacional por se tornar o principal porto de exportação do ouro de Minas Gerais, o que transformou o Rio de Janeiro na capital do Brasil em 1763, também era grande o número de crianças abandonas nas ruas da cidade e na Ladeira da Misericórdia que acessava o antigo hospital de caridade.
No segundo quartel do século 19, quando o Rio de Janeiro possuía mais de 200 mil habitantes, o pequeno hospital tornou-se insuficiente para atender a população crescente. Por reivindicação médica, o Cemitério e a Igreja da Misericórdia foram transferidos do local, dando lugar ao imponente prédio que foi inaugurado na Praia de Santa Luzia em julho de 1852, preservando no complexo hospitalar a estrutura da Roda do Expostos.
Nas primeiras décadas do século 20, as intervenções urbanas “higienistas” e “modernizantes” iniciadas por Pereira Passos destruíram o Morro do Castelo para aterrar o mar e construir do Aeroporto, desalojando inúmeras famílias do local, mas preservando o imponente hospital da Santa Casa do Rio de Janeiro.
A terceira Roda dos Expostos do Brasil foi instituída em 1789 na extinta Santa Casa de Misericórdia de Olinda que funcionava anexa à Igreja da Misericórdia localizada no alto do morro de onde se avistava o vilarejo de Recife.
Com o desenvolvimento portuário da cidade de Recife, em 1860 a Santa Casa de Olinda foi incorporada à Santa Casa de Misericórdia de Recife que passou a abrigar a Roda dos Expostos.
A quarta Roda dos Expostos do Brasil foi instituída mais tardiamente na cidade de São Paulo já no Período Imperial, em 1825 quando a vila quinhentista já ultrapassava os 25 mil habitantes. Nesse período, a enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo que atuava em casas cedidas pela Câmara Municipal, foi transferida para a distante sede da Chácara dos Ingleses na entrada da cidade, à beira do Caminho do Mar.
Nesse primeiro e precário hospital da irmandade da misericórdia lotado na Chácara dos Ingleses, também funcionou a primeira Roda dos Expostos de São Paulo, até ser transferida em 1840 para o novo prédio da irmandade, erguido em Taipa de Pilão na atual Rua da Glória, em frente ao primeiro cemitério público de São Paulo, o Cemitério dos Aflitos.
Aberto e final do século 18 para o enterro de escravizados, pobres, indigentes e crianças “abandonadas”, o Cemitério dos Aflitos funcionou até 1886 com a inauguração do Cemitério da Consolidação e seu terreno foi loteado posteriormente, restando apenas a pequena Capela de Nossa Senhora dos Aflitos como recordação desse período.
1879 anunciou o concurso público para a construção de um novo prédio para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo que incluísse no projeto uma Roda dos Expostos e cômodos para as crianças “abandonadas”.
Em 1884, o novo prédio de “Arquitetura Higienista Pavilhonar” da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo foi inaugurado na Vila Buarque onde a irmandade passou a receber os doentes e também as “crianças enjeitadas” na Roda dos Expostos.
Segundo registros do Museu da Santa Casa de São Paulo criado em 2011, que preserva a Memória e um Acerco Histórico valioso da Santa Casa de São Paulo, a Roda dos Expostos funcionou até dezembro de 1950, quando a última criança foi recebida e registrada com o número de 4.580.
Croqui do Peabiru na América do Sul Data: 01/01/2012 Créditos/Fonte: Andressa Celli Baseado em: Bond, 2011(mapa
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.