O Globo de Gottorf: o universo em miniatura que encantou o século XVII. olhardigital.com.br
26 de maio de 2025, segunda-feira Atualizado em 12/06/2025 01:16:09
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Por Marcelo Zurita, editado por Lucas Soares 26/05/2025 17h53
Muito antes de os planetários modernos surgirem, já havia quem sonhasse em colocar o Universo inteiro dentro de uma sala, ou até mesmo, dentro de um globo. E neste ano de 2025, quando celebramos os 100 anos do planetário moderno, por que não voltamos nossos olhos para um ancestral engenhoso e quase esquecido: o Globo de Gottorf, um “universo portátil” criado no século XVII para maravilhar e ensinar. Imagine entrar em um mundo onde as estrelas e constelações giram ao seu redor sem necessidade de feixes de luz ou projeções digitais. Essa experiência, que mesmo hoje, parece algo extraordinário, na época em que foi criado era uma verdadeira imersão cósmica, que encantava com a beleza do Universo e a mais pura poesia mecânica.
Essa maravilha da engenharia, o Globo de Gottorf é considerado um precursor dos planetários modernos. Sua construção teve início no ano de 1650, no Ducado de Schleswig, onde hoje é a Alemanha. O projeto foi uma encomenda do Duque Frederik III ao seu erudito conselheiro, o cartógrafo Adam Olearius, e sua execução ficou a cargo do armeiro Andreas Bösch. Frederick III queria um modelo que tornasse acessível a qualquer pessoa, a compreensão dos movimentos do Universo recentemente observado por Galileu e desvendado por Kepler, algo que simplesmente não existia até então.
A obra envolveu arquitetos, caldeiros, relojoeiros, marceneiros, mecânicos, artistas e artesãos, e levou 14 anos para ser concluída. Por ironia do destino, o próprio Frederick III não viveu para ver a concretização de seu sonho. Ele foi morto em 1659, na Segunda Guerra do Norte. Coube ao seu filho Christian Albrecht inaugurar, em 1664, a obra de arte da engenharia e da ciência, idealizada por seu pai.
O Globo de Gottorf tinha cerca de 3 metros de diâmetro, esculpido em madeira. Do lado de fora, parecia um globo terrestre comum. Mas a maior beleza estava no seu interior, literalmente.
Em certa parte do globo, uma portinhola convidava o visitante a entrar, deixar o mundo real do lado de fora e ser transportado para uma representação mágica do cosmos. Uma pequena escada levava a um banco central, de onde podia se observar as estrelas douradas encravadas nas constelações, representadas por suas figuras mitológicas, pintadas à mão nas paredes internas da esfera. Mas não era só isso: o globo girava! Um intricado sistema de engrenagens, movido pela força da água, fazia o céu circular suavemente ao redor do observador, simulando o movimento aparente das estrelas ao longo da noite.
Era como numa sessão de planetário de hoje, mas tudo feito com pinceis, madeira, bronze e muita imaginação. Como o Universo numa casca de noz, um teatro celestial onde os espectadores eram convidados a sentar no centro da arena cósmica.
Toda essa estrutura ficava alocada dentro da “Casa Globo”, um pequeno palácio construído nos jardins do castelo especialmente para abrigá-lo. Mas infelizmente, este não foi o único endereço do Globo de Gottorf.
Desde que foi concluído, o Globo se tornou famoso. Despertou a curiosidade e o interesse de estudiosos e foi cobiçado pelos poderosos de toda a Europa. Apesar de ter resistido ao tempo, mais do que muitas nações, sua história foi marcada pelas guerras e revoluções que redesenham o mapa do continente há séculos. Em 1713, durante a Terceira Guerra do Norte, o Globo de Gottorf foi enviado para São Petersburgo de presente (ou como espólio de guerra) para o Rei Pedro, do então emergente império russo. Lá ele foi danificado por um incêndio em 1747, mas foi restaurado e ganhou uma versão atualizada da cartografia.
Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, tropas alemãs capturaram o globo e o enviaram em um trem especial para Neustadt, na Alemanha. Em 1946, foram as tropas britânicas que encontraram o Globo de Gottorf. Eles deixaram o artefato exposto por 3 semanas em Lübeck e depois, no ano seguinte, ele foi enviado de volta para São Petersburgo, onde permanece em exposição até hoje na Academia de Ciência da Rússia.
Nos anos 90, iniciou-se um meticuloso trabalho de resgate histórico, no Castelo de Gottorf. Foram recuperados, relatos, desenhos e até parte do projeto original de Adam Olearius. Esse trabalho resultou na construção de uma réplica idêntica do Globo de Gottorf, instalado em uma nova Casa Globo, um pouco mais modesta, nos jardins do Castelo. Um trabalho artístico e histórico que trouxe de volta para casa essa preciosidade da engenharia do século XVII. Passados mais de 3 séculos, o globo idealizado por Frederick III segue encantando seus visitantes e mostrando que não há limites para a engenhosidade humana.
Mas o Globo de Gottorf não foi apenas uma curiosidade de época. Ele marcou um momento em que olhar para o céu era um ato tão artístico quanto filosófico e científico. Um precursor claro do que viriam a ser os planetários modernos. Ele estava tão à frente de seu tempo que foi preciso esperar mais de 250 anos até a próxima grande evolução: o planetário com projeção de estrelas, inaugurado um século atrás. Nas engrenagens de madeira do Globo de Gottorf, podemos ver o futuro dos projetores digitais; em seus astros pintados, a semente dos visores computadorizados que hoje encantam multidões.
E, mesmo hoje, com nossas esferas de LED e mostradores holográficos, assistir à lenta e serena rotação do céu mecânico no interior do do globo é um lembrete de quanta paixão e criatividade moviam nossos antepassados. O Globo de Gottorf nos ensina que a fascinação humana por representar o céu nunca foi novidade; ela é tão antiga quanto o desejo de entender o universo. É um símbolo da inventividade de uma era em que ciência e arte ainda caminhavam de mãos dadas, onde a visão do cosmos podia ser desenhada com pinceladas de tinta sobre madeira, e onde um príncipe e seu cartógrafo tiveram a audácia de criar um cosmos em miniatura.
Por isso, ao lembrarmos o centenário dos planetários modernos, celebremos também este precursor: o Globo de Gottorf, que por séculos, trouxe o céu para bem perto dos olhos humanos. Mesmo em plena era espacial, ainda é cativante e inspirador ver o que a paixão pelo Cosmos, a criatividade e a engenharia de séculos atrás eram capazes de fazer: transformar em uma realidade mecânica o sonho humano de se conectar com o Universo.
Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II Data: 01/01/1883 Créditos/Fonte: Capistrano de Abreu Página 98
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