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Jornal Pensamento
    15 de março de 1953, domingo
    Atualizado em 05/09/2025 05:48:05

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Na vila de São Paulo as coisas rolavam em calmaria podre. De 9 a 23 de julho de 1594, os edis se reuniram pró-forma: nada lhes parecia exigir o esforço ou as atividades funcionais da governança. Tudo em paz. E o escrivão Belchior da Costa, nas atas laconissimas, limitava-se apenas a registrar em três ou quatro linhas que "não ouve por hora que fazer" ou "por não aver que hordenar não fiz termo". E assim foi até o fim do ano, pois nas duas únicas reuniões subsequentes, a 31 de julho e 3 de dezembro, nada realizaram, nada fizeram senão designar para almotacéis Domingos Dias. o moço, e André Escudeiro, que tomaram posse do cargo com as formalidades legais.

No entanto, o primeiro semestre desse ano tinha sido fértil em novidades e medidas em prol do povo. Logo de inicio determinaram os edis "que esta villa ãdase limpa, pois ãdavão nella bãdos de porquos que sujavão e entravão na igreja e casas o que não paresia ben". Providenciou-se o pregão das "rendas do verde", que era a venda da carne de vaca. E assentou-se que se requeresse "ao capitão Afonso Sardinha que mãdase vigiar o caminho do campo por causa dos gentios".Em seguida, "quoãto ao que toqua ao botar os porquos da villa", resolveram "ajuntar allgus homeis do guoverno da terra para asnítar o que lhes paresese rezão e ben comum e asi também hordenariãoonde avião de ser postos os marquos e muros paraque fique a igreja dentro da villa".

Tratava-se então de alargar, como se vê, a área delimitada pelas primeiras fortificações. A igreja era a matriz, a velha Sé, recentemente construída. Daí. supormos que a segunda linha defensiva davila deveria ter atingido o inicio da rua Direita, descendo pela 15 de Novembro até a altura do largo do Tesouro.

Mais tarde, ainda em fevereiro, como houvesse prenúncios de levante dos indigenas, resolveram tambem mandar "vimte homeis brãcos a ver o que pasava ate ho pirapitingui". Em março, o padre Lourenço Dias Machado, o primeiro vigário da vila — e que "servia a este povo sen lhe ser dado salario de seu oficio e viguayraria", resolvera ir à Bahia tratar de seus interesses. Reuniram-se então a Camara e pessoas gradas para estudar o casu, pretendendo alguns que se mandasse alguém em seu lugar, visto como a sua ausencia faria falta à povoacão — "e que se fose nessesario dariáo de sua fazenda o neçasario para o sust-ntameto do dito padre vigário". Não obstante, venceu a maioria: "que o dito padre vigário fose em pesoa".

Depois surgiu a eterna questão da nova guerra aos indios, sendo o litoral contra a dita e os planaltinos a favor, pelo que resolveram requerer ao capitão Afonso Sardinha "que se os senhores de sãtos e de são Vicente não quizese ir a guerra que ho dito capitão fizese a dita guerra cõ a gente desta villa e de Itanhaen e gentio destas duas villas".

Venceu o ponto de vista dos locais: combateriam os indígenas antes que eles o fizessem. Afonso Sardinha, que há dois anos, também na iminência de partir a afrontar os nativos e, tanto como eles, os percalços do sertão misterioso, já se recomendara a Deus e aos seus contemporâneos, fazendo testamento, convocou os da sua grei. Convocou outros conterrâneos — e começou então na vila de São Paulo de Piratininga o trabalho necessário para a investida, o que naturalmente, como muitas vezes pelo tempo adiante, galvanizaria num mesmo entusiasmo e ardor a gente que se aceitava o auxilio alheio, nem por I isso deixava de ter capacidade suficiente para, mesmo sem ele, agir e marchar por conta própria.

Non ducor duco.

Talvez alguns recordem, como eu. ter exclamado,em meio dos perigos e terrores de um sonho:"E´ um sonho! Não quero que acabe! Quero continuarsonhando! "Ouvi dizer j também que certas pessoas: possuem a faculdade de S prolongar a casualidade de´ um só e mesmo sonho três e mais noites sucessivas.

Estes feitos demonstram até a evidencia que nossa mais intima natureza, o fundo comum de todos nós, encontra no sonho umprazer profundo e um gozo necessário.Do mesmo modo, os gregos representaram sob afigura de seu deus Ar>oloeste desejo gozoso do sonho; Apoio, embora d.usde todas as faculdr^^si criadoras de fôrmas, é. aomesmo tempo, o deus adivinhador. Ele, desde suaorigem, é"a aparência"| radiante, a divindade daluz; reina também sobre aaparência plena de b´1 zado mundo interior da imaginação. A mais alta verdade, a perfeição destesestados opostos à realidadeimperfeitamente inteligívelde todos os dias, enfim, aconsciência profunda dareparadora e saudavel na-, tureza do sonho, são sim-| bolicamente, a analogia,{ em vez, da aptidão da adivinhação e das artes, em| geral, pelas quais a vidase faz possível e digna deser vivida. Mas não devefaltar à imagem de Apoio! essa linha delicada que avisão percebida no sonhonão poderia tirar sem queseu efeito se convertesse[ em patolosico e a aparancia nos desse a ilusão dej uma grosseira realidade.Refiro-me a essa pondera-! cão. a essa naturalidadenas emoções mais violentas, a essa serena sab?doria do deus da fôrma. Conforme a sua origem, seuolhar deve ser"radiantecomo o sol": mesmo quando expresse inquietação ecólera, o reflexo sagradoda visão da beleza nãodeve desaparecer. E poderiamos assim aplicar aApoio, em um sentido excentrico, as palavras deSchopenhauer sobre o ho-| mem envolto no veu deMaia ("O Mundo comoVontade e Representação", I":"Como um pescador em um esquife,tranqüilo e cheio de confiança em sua frágil embarcação. em meio de unimar desencadeado, que,sem limites e sem obstaculos. eleva e abate, mugindo, montanhas de ondas espumosas, o homeniindividual, em meio de ummundo de dores, permanece impassível e sereno,apoiado com confiança no"principiumindividuationis". Poderia dizer-se queApoio que tem a inquebrantavel confiança nesteprincipio e a tranqüila segurança daquilo que estápenetrado dele, e até poderiamos encontrar emApoio a imagem divina eesplendida do"principiumindividuationis", em cujosgestos e olhares nos falaI toda a alegria e a sabedoi ria da"aparência", aomesmo tempo que sua heleza.Na mesma pagina. Schopenhauer nos pinta o espantoso"horror" que surprende o homem turvadorepentinamente quando seequivoca nas formas do conhecimento do fenomeno,parecendo sofrer uma exceção em alguma do suasformas o principio da razão. Se a este horror ajuntamos o agradavel extaseque se eleva do mais profundo do homem e mesmo


s".Tivemos ensejo de narrar nacrônica anlirior um caso de insubordinação de Índios carijósnas longitH; paragens dosGoiazes, em que perdeu a vidaum dos mais arrojados sertanistas de Farnaiba, terra que tantos sertanistas deu a São Faulo,entre eles o legendário Anhanguera. Não será fora de propositorecordar aqui outro sangrentorpisedio de rebelião de selvagens, provocada por uma levanumerosa de cativos descidos,pouco havia, do sertão, por Antonio Pedroso de Barros.Este acontecimento teve lugar, não no sertão Inospito, co- mo sucedeu com Luiz Castanhode Almeida, mas em pleno centro da capitania, nos arredoresde São Paulo, na fazenda daquele sertanista, lá por 1652, cque arrastou no seu bojo algumas centenas de outros selvagens, que neste domínio já se encontravam, aparentemente "amansados" e catequizados.

Este Antonio Pedroso de Barros pertencia a uma das maisilustres famílias paulistas, de nobreza reconhecida, tendo os seus componentes foro de cavaleiros fidalgos (convém frisar aqui a circunstancia de ser, naqueles recuados tempos, oficialmente reconhecida a casta nobre, com privilégios e direitos políticas e sociais, que perdurou em nosso país até a proclamação da Republica). Era filho do capitão-mor Pedro Vaz de Barres, que foi governador da capitania, e de sua mulher Luzia Leme, paulista e filha de um fidalgo da casa dos Lemes, da Ilha da Madeira, o opulento Fernando Dias Paes (avó, também, de Fernão Dias Paes, o "Governador das Esperanças"), proprietário de um imenso latifundio em São Paulo, que se desde Pinheiros até o Ipiranga

C : i;lho" da governador Pedro Vaz de Barros formavamuma luzida irmandade, com valieses serviços prestados a SãoFaulo e ao país, e foram a primeira geração dos Pedrosos de Barros da capita da

O primogênito, Valentim de Barras, tomou parte, no posto de alteres, na expedição comandada por Antonio Raposo Tavares, que em 1639 foi socorrer a Bahia e Pernambuco contra a invasão holandesa; e tendo caido Pernambuco em poder dos invasores, voltou por terra para a Bahia, na celebre retirada chefiada por Luiz Barbalho Bezerra. Os serviços que prestou com os seus Índios nesta retirada, talvez decisivos para o bom êxito do empreendimento, valeram-lhe o posto de capitão de infantaria, outorgado pelo marquês de Montalvão, o governador-geral. O terceiro genito, Luiz Pedroso de Barros, seguiu com seu irmão Valentim, nesta mesma expedição, no posto de capitão, levando sob suas ordens numeroso corpo de índios seus administrados.

Ambos os irmãos casaram na Bahia com duas irmãs, respectivamente, Catarina e Leonor Goes e Siqueira, daquela cidade. Outro irmão de Antonio Pedroso foi o opulento nababo Pedro Vazde Barros, o fundador e padroeiro da capela de São Roque, no município de Parnaiba, que deu erigem à atual cidade de São Roque. Foi apelidado — "Pedro Vaz Guassu", este grande paulista escreveu da Bahia o governador Alexandre de Sousa Freire em 1669, exponho-lhe a situação calamitosa dos moradores do Reconcavo, hostilizados pelos selvagens "que em repetidos assaltos iam acabando aos ditos moradores, pedindo quisesse ir de socorro para conquistar os reinos dos ditos bárbaras, e fazer nisto particular serviço a S. Majestade, e resgatar a Bahia da infecção destes Índios". Organizou-se então, a expedição paulista de socorro à Bahia, que para lá partiu em 1671, e que durante 3 anos guerreou os bárbaros e salvou a região de iminente destruição. Comandou a expedição o governador Estevão Ribeiro Bayão Perente. Mais uma referencia a Pedro Vaz Barros, o famoso "Pedro Vaz : | Guassu"; havia em sua fazenda de São Roque mais de mil equinhentos índios.

Outro irmão seu, de prestigio, Fernão Paes de Barros, possuiugrande fazenda em Araçariguama, prestou inúmeros serviços àcoroa. E o ultimo da irmão dado da qual se conhece a historia, capitão Sebastião Paes de Barros, também sertanista, esteve na qualidade dc comandante de tropa no Tocantins e Maranhão com o governador Antenio de Albuquerque Coelho de Carvalho.

Por este rápido apanhado poder-se-á avaliar a potência e ograu de nobreza desta família e quão ciosos e soberbos deviamter sidos estes paulistas era seus sentimentos dc dignidade e honradez.

Pois de todos eles, o menos venturoso foi precisamente Antonio Pedroso de Barros. Era um potentado em arcos, porquanto mantinha em sua fazenda de Apeterebu para mais de seiscentos bai baros que a presara nas suas entradas no sertão bruto. Estes íncolas eram, em sua quase totalidade, da imensa tribo dos cárijós, das terras do Sul, do Paranananema para baixo. Tais selvagens, indomáveis, rancorosos e sanguinários, que durante mais 40 quarenta anos mantiveram guerra constante contra os paulistas até que a expedição de Jeronimo Leitão os reduzisse à impotência, tais selvagens eram irredutíveis e difíceis dcamanhar e sempre prontos a rebelar-se e fugir para as selvas.

O sertanista havia descido recentemente um numero considerável desses ferozes carijós, e não tivera tempo, ainda parabatizá-los e amansar.

Foram esses bárbaros, chiefiados pelos seus caciques quese levantaram contra o seu senhor. O motim estourou danoite para o dia e nele se envolveram os demais carijós descidosde levas anteriores. Começou a correria em plena noite, aos berros de incitamentos dos caciques e, entre tumultos, iniciaram os energúmenos a depredação e o morticínio.

Apanhado de surpresa, Antonio Pedroso não pode organizarresistência, e quando tentou afrontar a fúria dos amotinados com alguns idios fieis, foi abatido a golpes de tacapes (1). Os que o acompanhavam, vendo-se perdidos, fugiram ante a fúria sanguinária dos brutos carijós, e os que não puderam escapar foram trucidados barbaramente.

Senhores da praça, os selvagens deram largas aos seus instintos depredativos, lançando fogo nas casas e choças, nos depósitos dc algodão e de cereais, derrubando cercas, matando criações, aves, porcos e gados. Delirantes de alegria pela fácil vitória alcançada contra os brancos, inebriados pela sensação da liberdade plena, entregaram-se V orgias pantagruelescas, a um festim monstro, devorando aves, porcos, vacas, assados em suas fogueiras improvisadas e emborrachando-se com aguardente, vinhos e outras bebidas, preparados na fazenda. Eram homens, mulheres e crianças, mais de quinhentos barbares, a comer, a beber, a dançar.

Depois, o saque, apoderando-se, cada qual do que mais lhesagradavam. Por fim, a desinteligência, a excitação a embriaguez, acenderam a discórdia entre as facções dos diferentes caciques, que acabaram atirando-se uns contra os outros, numa carnificina horrorosa, em que se estripavam, se degolavam e quebravam-se cabeças, costelas, braços e pernas, deixando inúmeros cadáveres e feridos no campo de batalha.

Os sobreviventes, saciados seus instintos de canibais, pressentindo o clarão do dia e receando a vinda dos brancos abandonaram a fazendo em treel, como se recua de feras assustadas e "agarraram" o mato,

dispersando pela imensidão da selva! Onde difícil dar-lhes caça.(1) Antonio Pedroso de Barros foi socorrido por vizinhos, parentes e amieos, que acorreram com seus índios para sufocar a rebelião dos cari.iós. Morreu dos ferimentos recebidos, tendo tempoainda de fazer o seu testamento, no qual pedia "perdoassem aosseus matadores".






Genealogia paulistana
Data: 01/01/1903
Créditos/Fonte: Luiz Gonzaga da Silva Leme
Página 187


ID: 11991


OII!

Registros mencionados

6 de abril de 1585, sábadoID: 28111
Sessão de 6 de abril de 1585, Atas da Câmara da Cidade de São Paulo
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20 de janeiro de 1639, quinta-feiraID: 5175
Bandeira de Raposo Tavares voltou a São Paulo, mas ele mesmo perman...
Atualizado em 05/09/2025 04:14:05
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1652ID: 27953
Falecimento de Antonio Pedroso de Barros (1610-1652)
Atualizado em 25/02/2025 04:46:59
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