A incrível história da indígena que foi a primeira alfabetizada do Brasil. Por Marília Monitchele, em veja.abril.com.br
Atualizado em 21/03/2025 00:50:21
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Durante muito tempo na História, essa, escrita com H maiúsculo, não houve espaço para a menção de mulheres. Não é que elas não existissem, não é que elas não agissem. Elas existiram e tiveram impacto relevante em eventos que consideramos dominados por homens. Revoluções? Estavam lá. Guerras? Também. Acordos de paz, disputas territoriais… Elas estavam fazendo ciência, empreendendo e criando espaços em uma sociedade feita por homens para homens.
Mas se elas costumavam estar nesses lugares, por que não são mencionadas? Ora, a história também era um domínio restrito à masculinidade. O apagamento do papel do feminino era, portanto, natural. “Por muito tempo na história ‘anônimo’ era uma mulher”, sintetizou Virginia Wolf. Apesar disso, algumas biografias teimaram. Nomes se sobressaíram, como Marie Curie e Joana d’Arc, outros terminaram esquecidos, alguns não passaram de breves menções nos relatos masculinos. É um grande poder esse de selecionar o que é digno de ser lembrado e o que pode ser apagado, esquecido.
O Brasil, por exemplo, nasceu de um decreto assinado por uma mulher. Maria Leopoldina, e não D. Pedro I, nos tornou oficialmente independentes. A escravidão fora formalmente encerrada por outra, consolidando a luta de milhares de mulheres negras que criaram artifícios para deixar a condição de cativas e não tiveram sua assinatura no documento final. A primeira greve geral do país? Obra de mulheres. Assim como foi uma mulher que reivindicou pela primeira vez a igualdade de ensino e o direito à educação. Catarina Paraguaçu teria sido não apenas a primeira mulher indígena, mas a primeira mulher da história brasileira a aprender a ler e a escrever.
Paraguaçu era filha de Taparica, cacique dos tupinambás, e foi considerada “a mais antiga figura feminina da história do Brasil”. Nos primeiros anos de colonização, ela teria intercedido pela vida do português Diogo Álvares, o Caramuru, com quem formou um dos primeiros casais interraciais do país, e o mais famoso do século XVI. Lamentavelmente, muito do que restou da história de Paraguaçu está vinculada ao seu casamento com Álvares. Sabe-se, no entanto, que ela teria reivindicado o direito à educação das mulheres, tendo sido a primeira a dominar as letras, e escreveu uma carta de próprio punho ao padre Manoel da Nóbrega em 1561, quando a maioria dos homens no mundo não detinha esse tipo de conhecimento.
Numa época de grande discriminação contra as mulheres, sobretudo as indígenas, a influência de Catarina se impôs na sociedade colonial. Naturalmente, o casamento dela com Diogo Álvares não foi apenas determinado pelo amor romântico. A aliança firmada entre os dois contribuiu para o longo processo de aculturação que os europeus iniciaram em 1500 e desenvolveram pelos séculos seguintes, mas também poupou parte dos tupinambás do cacique Taparica da hostilidade usual dos homens brancos.
Em um mundo ideal, a alfabetização pioneira de Paraguaçu teria aberto as portas para que outras mulheres indígenas acessassem os sistemas de educação. Mas a história segue um curso próprio, geralmente pouco inclusivo. Foi apenas 445 anos depois da alfabetização de Paraguaçu, em 2006, que o Brasil concedeu o primeiro título de doutora para uma mulher indígena, a linguista Maria Pankararu, que recebeu o título pela Universidade Federal de Alagoas, com uma tese sobre a língua ofaié.
Quase 20 anos depois, em 2023, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul dava a Susana Kaigang título equivalente. A indígena se tornou doutora em educação recuperando a trajetória de sua mãe, a militante indígena Andila Kaigang. “A história oficial não traz a história dos povos indígenas porque foi escrita pelo colonizador”, diz. “Cabe a nós contar nossa própria história e ocupar os espaços”.
O processo de reconstruir a trajetória de Andila tem o peso de trazer uma biografia pouco conhecida. “Ela estava no centro de muitos debates que envolviam a educação dos povos indígenas”, explica. Além de seu envolvimento na educação escolar indígena, Andila participou de frentes de retomada de terras, atua na Organização Indígena Instituto Kaingáng (INKA) e no Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, estabelecendo conexões entre educação, cultura e tradição kaingang.
“Recontar a história das mulheres indígenas é recontar partes de uma história que insistem em esquecer”, sintetiza. Se mulheres como Catarina Paraguaçu abriram uma porta, mulheres como Susana, Andila, Maria Pankakaru e outras tantas estão dispostas a escancarar as janelas.
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.