SÍRIO-LIBANESES EM SOROCABA: O NEGÓCIO É NEGOCIAR...
Atualizado em 22/03/2025 05:07:56
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#MarvadãoConteúdoOriginal - Quando Sorocaba completou 300 anos, em 1954, a colônia sírio-libanesa radicada na cidade já era marcante. Uma placa colocada na praça Dr. Ferreira Braga, o conhecido Largo do Rosário, registra a doação de uma Fonte Luminosa no local, bancada pela comunidade árabe.
O IBGE registra que no início da década de 1920 já viviam em Sorocaba 182 sírio-libaneses, número que cresceu bastante nas duas décadas seguintes. Assimilaram nossos costumes e enriqueceram nossos hábitos com suas práticas culturais. Nossa cozinha ficou mais diversificada com a chegada da esfiha, do quibe, do tabule, da coalhada seca e do pão sírio.
E o nosso comércio varejista ganhou novas práticas: a redefinição das condições de lucro, a partir da alta rotatividade e alta qualidade das mercadorias, realizando-se venda a prazo, na caderneta, com promoções criativas e liquidações. Enfim, a encantadora linguagem comercial. Nisso tudo, o prazer de recepcionar, envolver, encantar. O negócio dos sírio-libaneses sempre foi negociar... Uma forma também de relações públicas e de convívio social.
Relato feito por revista da Associação Comercial de Sorocaba de 2012 traz saudosas referências de lojas de famílias árabes no centro da cidade, no início dos anos 1950.
Na Rua Dr. Braguinha, havia lojas da família Teruz, de artigos musicais e de tecidos. A Teteia Paulista, na esquina com a Rua Barão do Rio Branco, de Abbud Bachir Abdalla, vendia tecidos finos. Do outro lado do cruzamento, estava a loja Três Irmãos (Gito, Fufa e Lalo), da família Latuf. Por ali ficava a Loja do Sol e a Barão Tecidos, da família Abib, que vendiam roupas masculinas. Na calçada da Livraria Gutierres (Dr. Braguinha), ficava a loja de retalhos de Tuffi Aidar, onde sua filha Júlia confeccionava flores em papel crepom. Rosa Amary cobria botões na mesma calçada e, ao lado, Sofia vendia doces árabes. Outra loja de tecidos era a de Elias Stefano.
O comércio árabe tinha outros pontos. Na Rua da Penha, esquina com a rua Cel. Benedito Pires, ficava a loja de João Maluf, também de tecidos e retalhos. Em 1955, nascia o Camiseiro, de Elias Cardum, de roupas masculinas, loja ainda em atividade, em outro endereço. Na avenida Souza Pereira, próximo do Largo do Canhão, ficava o Depósito do Salomão (loja São Bento) de Salomão José, e a família Atala estava localizada no Hotel São Paulo. Na Rua São Bento, quase na esquina com a Barão do Rio Branco, ficava o estabelecimento da família Hatem. Os Stefan já tinham a sua mercearia nos altos da Rua da Penha, ao lado da antiga fábrica de facões de Alfredo Soares.
Na rua Sete de Setembro, desde os anos 1940, Abrão Reze mantinha sua revenda de automóveis. Do outro lado do rio Sorocaba, funcionava a loja de colchões da família Faquerdine, enquanto Elias Antônio José comercializava tecidos no atacado, na Avenida São Paulo.
NOMES MARCANTES DO COMÉRCIO E DA VIDA SOROCABANA
Em 2019, a Associação Comercial recepcionou Rudy El Azzi, cônsul do Líbano, com participação da União Árabe de Sorocaba, presidida por Emílio Elias Sabeh, para estreitar o relacionamento do consulado com a comunidade e as autoridades locais.
Foi quando se informou que existem em Sorocaba pelo menos 150 famílias de origem sírio-libanesa. Entre elas: Athie, Amary, Maluf, Sabeh, Aidar, Bachir, Hanna, Abbud, Abdalla, Abib, Abibe, Reze, Mansur, Faquerdine, Jamal, José, Rachid, Paccos, Farah, Miguel, Saker, Gallep, Hage, Stefano, Aduan, Nagib, Jacob, Marum, Temer, Mussi, Stefan, Morad, Dib, Lauand, Diebe, Kalil, Bittar, Jbele, Sabbag Ayub e muitos outros.As famílias mais tradicionais da colônia árabe de Sorocaba não fogem da história das demais que imigraram para o Brasil a partir do final do século 19. Na grande maioria, formada por famílias cristãs, que fugiam dos conflitos da região do Líbano e da Síria por razões econômicas (falta de terras livres na partilha das famílias), políticas e religiosas, num contexto de domínio muçulmano do Império Turco-Otomano. Saíam dos portos de Beirute e Trípoli em direção ao Brasil. No passaporte eram registrados como “turcos”. Muitos desembarcavam no Porto de Santos e subiam a Serra do Mar por trem, em direção sobretudo à cidade de São Paulo e dali alguns para o interior do Estado, sobretudo para a região oeste.Na capital, a colônia se radicou sobretudo nas imediações da Avenida 25 de Março, implantando ali a prática do varejo popular, no espaço que hoje é considerado o maior centro comercial do Brasil. No interior, preferiam cidades com tendência de expansão industrial e urbana, como Sorocaba, onde prosperava a indústria têxtil e havia boas condições para a atividade comercial.Os sírio-libaneses não vieram para o Brasil já com emprego garantido, estimulados por acordos do governo com fazendeiros que precisavam de mão de obra barata. Vinham por vontade própria, para exercer atividade de subsistência, sem posses, apenas com o “capital” da sua capacidade nata de negociar. Alguns até foram para as regiões cafeeiras, mas para “mascatear”, com suas maletas com miudezas em geral, no lombo de mulas, depois em carroças.À medida que a atividade de mascate melhorava a condição de vida, estabeleciam família, montavam suas pequenas lojas, armarinhos de roupas e tecidos, casas de secos e molhados. Com o tempo, ampliavam seus estabelecimentos comerciais para lojas maiores, alguns saindo do varejo e dedicando-se ao atacado e até à atividade industrial.No começo, ficavam hospedados em casas de “patrícios” (conterrâneos) e iam formando laços com os “brimos” (primos), que é como tratavam seus novos amigos brasileiros. E assim iam formando sua rede, sua clientela, sua freguesia. A expressão “turco da prestação” era uma forma afetiva de se referir à prática comercial que implantavam, de grande aceitação popular.(Este texto faz parte do livro 100 Anos da Associação Comercial de Sorocaba, escrito por mim)
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.